Encontro com Trump não garante fim do tarifaço, diz cientista político

Atualizado em 26 de outubro de 2025 às 22:39
O presidente Donald Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foto: Reuters/Evelyn Hockstein

O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Donald Trump, neste domingo (26), em Kuala Lumpur, na Malásia, representou uma reaproximação entre Brasil e Estados Unidos, mas ainda sem garantia de avanços concretos sobre o tarifaço de 50% imposto por Washington a produtos brasileiros. A avaliação é do cientista político Hussein Kalout, ex-secretário de Assuntos Estratégicos do governo Michel Temer.

Kalout avaliou que a conversa, descrita por Trump como “honrosa”, encerra meses de tensão diplomática entre os dois países e marca um reposicionamento do Brasil no diálogo comercial com Washington. O cientista político classificou o episódio como uma “tremenda vitória” para Lula, com reflexos diretos na corrida eleitoral de 2026.

Tive uma ótima reunião com o presidente Trump na tarde deste domingo, na Malásia. Discutimos de forma franca e construtiva a agenda comercial e econômica bilateral. Acertamos que nossas equipes vão se reunir imediatamente para avançar na busca de soluções para as tarifas e as… pic.twitter.com/aTXZthrb9Z

Apesar do tom amistoso, o encontro não garantiu o fim do tarifaço de 50% aplicado por Trump a produtos brasileiros. Segundo Kalout, o tema seguirá em negociação e deve envolver concessões bilaterais. O próximo passo será uma reunião entre o chanceler Mauro Vieira e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, marcada para esta segunda-feira (27), ainda na Malásia.

Mauro Vieira, chanceler do Brasil. Foto: reprodução

Kalout destacou que Trump pode reduzir tarifas sobre setores específicos, mas alertou que o republicano tende a usar o tema como instrumento político e econômico. O analista lembrou que as tarifas aumentaram os custos de importação nos EUA e contribuíram para a inflação interna, o que reforça o interesse americano em revisar parte das medidas.

A aproximação também tem efeito político direto. Para o cientista, o gesto de Trump “esvazia o discurso bolsonarista” e fragiliza o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe de Estado. Kalout afirmou que o episódio simboliza o fim da influência bolsonarista junto à Casa Branca, que havia sido reforçada após a atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA.

Mesmo assim, Kalout ponderou que as sanções impostas pelo governo americano contra ministros do Supremo Tribunal Federal devem permanecer. Ele afirmou que Trump dificilmente revogará as punições imediatamente, mas poderá usá-las como moeda de troca em futuras negociações comerciais e diplomáticas com o Brasil.