
Algumas perguntas básicas depois da vitória surpreendente do Liberdade Avança de Javier Milei nas eleições parlamentares do domingo, que ressuscitam o fascismo que chegou a ser dado como morto.
1. A primeira pergunta, que está nas capas de todos os jornais argentinos, é essa: como irá se comportar o dólar a partir de agora, sabendo-se que a cotação da moeda americana é o principal termômetro do humor de empresários e pessoas comuns. Há décadas todos se protegem no dólar, cuja cotação no mercado paralelo chegou a 1.500 pesos. O argentino vai confiar mais no peso, depois da eleição que dá uma nova chance a Milei?
2. Qual será a postura de Javier Milei, que obteve uma vitória que ninguém esperava, ao vencer nas principais províncias e inclusive em Buenos Aires? No domingo mesmo ele disse que buscará se aproximar inclusive de adversários. Milei se fortalece no Congresso, para tocar adiante as reformas de destruição do setor público, e pode obter de volta o apoio de governadores que estavam abandonando o governo.
3. Qual será o efeito de médio prazo da ajuda que a Argentina recebeu, de US$ 20 bilhões, dos Estados Unidos? O Tesouro americano vinha dando suporte ao governo para segurar o câmbio na semana passada. Milei se fortalece politicamente também com Trump. Mas por quanto tempo irá durar o efeito dos dólares e da eleição, sabendo-se que a crise econômica é grave, com aumento de pobreza e desemprego? Como Milei chegará às eleições de 2027, quando tentará a reeleição?
4. Como a derrota na província de Buenos Aires irá abalar o peronismo-kirchnerismo? Em setembro, os peronistas haviam vencido as eleições legislativas (para a assembleia estadual da província) por 13 pontos de diferença em relação ao partido de Milei. O Liberdade Avança venceu agora com uma pequena diferença de 41,48% dos votos, contra 40,88% do peronismo (Milei elegeu 17 deputados pela província, e os peronistas, 16), mas o peronismo dominava historicamente a região de Buenos Aires, com exceção da capital. Cristina Kirchner e o governador da província, o peronista Axel Kicillof, são os maiores perdedores.

5. Como ficam os movimentos populares, que mantêm mobilizações constantes, principalmente com marchas todas as quartas-feiras em Buenos Aires? Trabalhadores, aposentados, estudantes, professores, profissionais da saúde e servidores públicos em geral vêm sofrendo o arrocho de cortes de verbas em todas as áreas. Qual será o abalo na autoestima de quem vai para as ruas todas as semanas para protestar contra o governo?
6. Como ficarão, com o fortalecimento político de Milei e de sua irmã, Karina, as investigações policiais sobre o envolvimento dos dois em pilantragens com criptomoedas e cobrança de propinas de empresário? O sistema de Justiça argentino, já aparelhado pela direita, desde Mauricio Macri, vai enfrentar os irmãos vigaristas? O Congresso, com maior presença da extrema direita, permitirás que as investigações avancem também no parlamento?
7. Milei vai conseguir terminar o mandato, que se encerra só em dezembro de 2027? Essa era a pergunta mais frequente, inclusive na mídia de direita da Argentina, nos últimos meses, com a deterioração da economia, os casos de corrupção e a vitória peronista de setembro. É uma interrogação que pode ser deixada de lado, pelo menos por enquanto. Mas até quando?