
A reunião entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aconteceu no último domingo (26), marcou um novo capítulo das negociações entre os dois países e aumentou a expectativa da indústria sobre uma possível redução das tarifas às exportações brasileiras.
No encontro, que durou cerca de 45 minutos, os líderes se comprometeram a iniciar o processo para uma negociação bilateral, em busca de uma solução para o tarifaço imposto por Trump. A primeira reunião entre os representantes comerciais dos dois países aconteceu na segunda-feira (27).
“O que interessa em uma mesa de negociação é o futuro, é o que você vai negociar para frente. A gente não quer confusão, a gente quer negociação. A gente não quer demara, quer resultado”, afirmou Lula na véspera.
A primeira reunião com os representantes estadunidenses para dar início a uma negociação bilateral contou com a participação do ministro das relações exteriores, Mauro Vieira, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Rosa, e do assessor especial da Presidência, embaixador Audo Faleiro.
Segundo Rosa, os representantes concordaram com um cronograma de reuniões com foco nos setores mais afetados pelas tarifas. A ideia é construir um acordo satisfatório para ambas as partes.
A expectativa é que o cronograma de reuniões estabelecido pelos representantes brasileiros e estadunidenses seja seguido nas próximas semanas, caso não haja nenhuma intercorrência. Segundo o ministro do desenvolvimento e vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), no entanto, ainda não há data marcada para uma nova reunião.
Já sobre os pontos a serem discutidos na negociação, o presidente Lula afirmou na segunda-feira que não houve nenhuma contrapartida apresentada pelos estadunidenses até o momento, enfatizando que “não existem temas proibidos”. “Se ele quiser discutir a questão de minerais críticos, de terras raras, se quiser discutir etanol, açúcar, não tem problema. Eu sou uma metamorfose ambulante na mesa de negociação. Coloque o que quiser que eu estou disposto a discutir todo e qualquer assunto”, disse.
Trump, por sua vez, disse que apesar de a reunião com o presidente brasileiro ter sido “muito boa”, não garantia necessariamente um acordo entre os dois países. “Tivemos uma reunião muito boa, vamos ver o que acontece. Não sei se alguma coisa vai acontecer, mas veremos. Eles gostariam de fazer um acordo. Vamos ver, agora mesmo eles estão pagando, acho que 50% de tarifa”, afirmou o republicano.

Segundo Vieira, outro ponto levantado por Lula durante o encontro de domingo seria a possibilidade de suspensão das tarifas durante o período de negociação. O presidente estadunidense, por sua vez, teria apenas declarado que instruiria sua equipe para dar início ao processo de negociação bilateral.
De acordo com o chanceler, os representantes brasileiros devem voltar a abordar a possibilidade de suspensão das taxas, argumentando que a situação seria semelhante ao que aconteceu com o México e com o Canadá, por exemplo, que tiveram as alíquotas suspensas temporariamente por Trump durante as tratativas do acordo.
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias Rosa, afirmou no domingo que Lula também deixou claro que a motivação usada pelos EUA para impor a elevação de tarifas para o restante do mundo não se aplica ao Brasil, uma vez que o país tem déficit na balança comercial com os estadunidenses. O presidente brasileiro afirmou na última segunda-feira que chegou a entregar um documento para Trump que mostrava que as informações de que os EUA tinham déficit comercial com o Brasil eram “infundadas”.
“Nós provamos que houve superávit de US$ 410 bilhões em 15 anos. Só no ano passado foram quase US$ 22 bilhões de superávit para os Estados Unidos. Em todo o G20 só há três países em que os Estados Unidos são superavitários: Brasil, Reino Unido e Austrália”, disse Lula.
Com o impacto das tarifas, diversos setores já têm sinalizado a necessidade de um acordo rápido entre o Brasil e os Estados Unidos para redução das taxas. Segundo Vieira, a expectativa é que um acordo seja concluído já nas próximas semanas.
“Esperamos em pouco tempo agora, em algumas semanas, concluir uma negociação bilateral que trate de cada um dos setores da atual tributação americana ao Brasil”, disse Vieira no domingo.