Silêncio da direita sobre Lula e Trump mostra discurso desalinhado

Atualizado em 28 de outubro de 2025 às 11:59
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao lado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na 47ª Cúpula da ASEAN, em Kuala Lumpur, na Malásia. Foto: Ricardo Stuckert

O encontro entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump expôs o desalinhamento e o silêncio da direita brasileira, que se viu sem discurso unificado diante da repercussão positiva da reunião entre os dois presidentes. Com informações do Globo.

A ausência de manifestações de governadores e líderes bolsonaristas contrastou com o impacto da imagem de Lula ao lado do presidente dos Estados Unidos, amplamente celebrada nas redes.

Desde o fim de semana, nomes centrais da direita, como Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Júnior (PR) e Ronaldo Caiado (GO), optaram pelo silêncio. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), um dos principais comunicadores digitais do bolsonarismo, também não se pronunciou.

O silêncio, segundo aliados, revela a dificuldade de sustentar o discurso de que Lula mantém uma postura “antiamericana”, narrativa usada desde que Eduardo Bolsonaro tentou vincular o petista à crise diplomática gerada pelas tarifas impostas pelos EUA ao Brasil.

Após o encontro e a foto em que Lula e Trump aparecem sorridentes, a retórica da oposição perdeu força. Antes, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) defendiam que o Brasil não buscava diálogo com a maior potência do mundo. Agora, o gesto diplomático entre Lula e Trump tornou essa linha de ataque insustentável.

Imagem de Lula e Trump domina as redes

Um levantamento da Quaest, feito com a ferramenta QuaestScan, mostrou o impacto da imagem que viralizou nas redes.

A foto dos dois presidentes somou 72 milhões de visualizações e 22 milhões de curtidas nas principais plataformas — Instagram, X, TikTok e Facebook. Até então, a imagem mais popular de Lula era a foto ao lado de Janja, publicada em 2021, com 65 milhões de visualizações.

O cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, afirmou que o registro simboliza a diplomacia moderna. Segundo ele, “a política como imagem” ganhou força e a foto “fala por si” sobre o novo momento de Lula na cena internacional.

Família Bolsonaro tenta minimizar encontro

Mesmo a família Bolsonaro adotou um tom mais contido. Eduardo Bolsonaro ironizou o encontro nas redes, dizendo: “Lula encontra Trump e na mesa um assunto que claramente incomoda o ex-presidiário: Bolsonaro. Imagine o que foi tratado a portas fechadas?”. Não há indícios de que o tema tenha sido abordado.

Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também reagiu, afirmando que Lula saiu “de mãos abanando” da reunião. No entanto, o Planalto informou que o encontro teve caráter diplomático e serviu para abrir caminho para futuras negociações, sem previsão de anúncios imediatos.

Desgaste da oposição

Internamente, assessores do governo também viram como um “presente político” a bandeira dos Estados Unidos estendida na Avenida Paulista durante o 7 de Setembro bolsonarista. O gesto, interpretado como símbolo de “entreguismo”, reforçou o contraste com o discurso de soberania nacional defendido por Lula.

O apoio de Trump, antes visto como um ativo do bolsonarismo, também perdeu força. O próprio republicano afirmou, após breve encontro com Lula na ONU, ter sentido uma “química inesperada” com o brasileiro. O diálogo evoluiu para uma ligação telefônica e, depois, para a reunião presencial na Malásia, sem qualquer menção a Bolsonaro.

A direita ainda enfrenta desgaste político com pautas rejeitadas pela opinião pública, como a PEC da Blindagem, desaprovada por 63% dos entrevistados na pesquisa Genial/Quaest, e o projeto de anistia a golpistas, amplamente criticado nas ruas.