Guerra no Rio: operação deixa ao menos 64 mortos e é a mais letal da história do estado

Atualizado em 28 de outubro de 2025 às 15:52
Carro é incendiado e usado como barricada durante operação no Complexo do Alemão. Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

A operação realizada no Rio de Janeiro nesta terça (28) entrou para a história como a mais letal do estado. Com um saldo de ao menos 64 mortos e 81 presos, o pretexto da ação é o de desarticular o Comando Vermelho (CV), uma das facções criminosas mais poderosas do RJ.

Quatro policiais perderam a vida, além de outras pessoas feridas, incluindo civis e agentes de segurança.

A “Operação Contenção”, que se estendeu por diversas comunidades da capital e já vinha sendo realizada como parte de um esforço contínuo para combater o CV, atingiu seu ápice hoje. Pelo menos 2,5 mil agentes das forças de segurança do estado foram mobilizados para cumprir 100 mandados de prisão.

A ação foi planejada com meses de antecedência, contando com o apoio do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Civil. Sua principal missão era desarticular as lideranças do CV e neutralizar os pontos de influência da facção nos territórios fluminenses.

A situação foi descrita como um campo de batalha urbano, com mais de 200 disparos ocorrendo em apenas um minuto durante a invasão das equipes policiais. A polícia também encontrou resistência de criminosos que fugiram em fila indiana, criando cenas que lembraram os confrontos durante a ocupação do Morro do Alemão em 2010.

Os pontos focais da operação foram os complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio. Essas comunidades têm sido, há anos, epicentros do tráfico de drogas no estado, controladas por facções como o CV.

A operação mobilizou um aparato de guerra, com o uso de helicópteros, 32 veículos blindados, 12 carros de destruição e drones. A ação foi planejada para durar até o final do dia, com operações em andamento para localizar e prender mais membros da facção.

Em paralelo ao confronto armado, a população local sofreu com os efeitos colaterais da operação. Dezenas de escolas foram impactadas, com 29 unidades no Complexo do Alemão e 17 no Complexo da Penha tendo que ser fechadas temporariamente.

Unidades de saúde da região suspenderam suas atividades, afetando diretamente a rotina da população que depende dos serviços públicos. A Secretaria Municipal de Saúde e a Secretaria de Educação do Rio já haviam alertado sobre a situação, e os moradores foram orientados a buscar abrigo e se manter em segurança.

Policial é socorrido por agentes de saúde em meio a operação contra o CV. Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

As vias da cidade também sofreram interrupções. A Av. Brasil, uma das principais arteriais de trânsito do Rio, foi bloqueada, assim como outras ruas no entorno dos complexos onde os confrontos aconteciam. Mais de 100 linhas de ônibus tiveram seus itinerários alterados devido aos bloqueios e à intensificação das operações.

O Centro de Operações e Resiliência (COR) da Prefeitura do Rio elevou o estágio operacional da cidade para o nível 2, com a recomendação para que a população evite circular pelas áreas afetadas pela operação.

O governo estadual e a Secretaria de Segurança Pública alegam que operações como a “Contenção” são necessárias para combater as facções criminosas que dominam o território carioca. O governador bolsonarista Claudio Castro (PL), durante uma coletiva, afirmou que a a ação foi a maior da história do Rio e que o estado está sozinho na luta contra o crime organizado.

O impacto da operação também se estendeu ao mercado de drogas: foram apreendidos mais de 200 kg de drogas, 31 fuzis e rádios comunicadores.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.