A fake news de Claudio Castro sobre a “falta de ajuda federal”. Por Miguel do Rosário

Atualizado em 28 de outubro de 2025 às 18:23
Comunidade do Rio de Janeiro. Foto: Divulgação

 

Pior que a incompetência é a covardia — e Cláudio Castro reúne as duas. O governador do Rio de Janeiro mostrou-se incapaz de conduzir uma operação policial de grandes proporções e, diante do desastre, preferiu culpar o presidente Lula para escapar de suas responsabilidades.

A chamada Operação Contenção mobilizou cerca de 2.500 agentes das forças de segurança para conter o avanço do Comando Vermelho e cumprir 100 mandados de prisão. Quatro policiais foram mortos, sessenta suspeitos morreram em confronto e 81 pessoas foram presas. Também foram apreendidos 75 fuzis.

Além da perda de vidas humanas, é preciso considerar o prejuízo causado pelo caos na cidade: o terror nas comunidades, os congestionamentos, o fechamento de escolas, postos de saúde e hospitais, as barricadas, o medo generalizado, o colapso completo da rotina. Foi um dia em que o Rio parou sob fogo e pânico.

No mesmo dia, Cláudio Castro convocou uma coletiva de imprensa para se defender — e, em vez de assumir a responsabilidade, tentou fabricar uma narrativa. Com voz trêmula, afirmou que o Rio estava “sozinho”. Mentiu.

Ele próprio admitiu que não pediu ajuda federal. Não acionou a Polícia Federal, as Forças Armadas nem o Ministério da Justiça. Ainda assim, tentou convencer o público de que o Governo Federal teria negado apoio. Para isso, usou uma justificativa distorcida: disse que, em outras ocasiões, o governo exigira um formulário para autorizar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO). O que é preciso deixar claro — e a imprensa, infelizmente, acabou caindo na armadilha de Cláudio Castro — é que ele não pediu, não solicitou apoio do governo federal para essa operação de hoje. Ponto final.

O próprio ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, confirmou a informação. Ele afirmou que o governador Cláudio Castro não pediu apoio para a operação policial de hoje.

Entre os 81 presos, até o momento não se sabe quem são, nem o grau de periculosidade. Entre mortos e suspeitos, não há clareza sobre quantos realmente pertencem a facções ou quantos eram apenas moradores pegos no fogo cruzado. E não será a primeira vez que a cidade descobre, dias depois, que entre os mortos havia vários inocentes — vítimas de uma operação desastrada e inconsequente.

O que está claro é o objetivo político: remexer o ânimo fascista da sociedade. Essa tática, que a extrema direita usa no mundo inteiro, é especialmente eficaz no Brasil. Foi com ela que Bolsonaro chegou ao poder. No Rio de Janeiro, ela sempre dá resultado.

A operação, conduzida sem planejamento e usada como espetáculo, serviu para desviar a atenção da opinião pública, em meio à onda positiva de Lula após o encontro com Donald Trump. Criou-se o caos e, sobre ele, ergueu-se uma mentira.

A esquerda, por sua vez, precisa tomar cuidado ao reagir a esse tipo de manipulação. Ao criticar os excessos das forças de segurança, é empurrada para a armadilha retórica de parecer “defender bandidos” — uma distorção que mina o debate público e enfraquece a luta por uma política de segurança racional e humana.

Para o país, pensando no interesse nacional e considerando que a segurança pública é, de fato, um drama na vida de milhões de brasileiros, será preciso que o governo federal pense muito rápido dessa vez e utilize mais essa crise no Rio de Janeiro como uma grande oportunidade para fazer avançar a pauta — a PEC da segurança pública — e gerar um debate construtivo, urgente e assertivo. Esse debate precisa envolver a sociedade com ideias criativas e transmitir com clareza que as autoridades eleitas pelo voto popular são inimigos radicais do banditismo e do crime organizado. Essa mensagem será essencial para evitar o retorno dos sentimentos fascistas na sociedade e conter o avanço da extrema direita em 2026, que tentará, mais uma vez, manipular com mentiras e soluções fáceis a pauta da segurança pública.

Publicado originalmente em O Cafezinho