Ex-secretário nacional de Segurança Pública diz que “criminosos importantes não vivem em favelas”

Atualizado em 30 de outubro de 2025 às 8:42
Ex-secretário nacional de Segurança Pública Ricardo Balestreri. Foto: Reprodução

Ex-secretário nacional de Segurança Pública Ricardo Balestreri afirmou, em entrevista ao Globo, que “nenhum bandido importante no Brasil mora em uma favela”. Ele também disse que o Estado engana a população ao concentrar o combate ao crime nas comunidades pobres, enquanto os verdadeiros chefes das facções estão infiltrados em setores econômicos e institucionais. Para Balestreri, as operações policiais ostensivas realizadas no Rio de Janeiro são “desinteligentes”. Confira: 

O governo do Rio costuma argumentar que as operações ostensivas são necessárias para “cortar capim”, isto é, frear periodicamente o avanço do crime organizado. Esse argumento se sustenta em uma operação como a de anteontem?

Combater o crime dessa maneira desinteligente é como bater em massa de bolo: ela só vai crescer cada vez mais. O discurso do poder público é de que “é melhor isso do que não fazer nada”, que não pode “ficar de braços cruzados”, mas eles na verdade não estão fazendo nada, exceto espetáculo. A única consequência é o pânico na população humilde e trabalhadora. E isso não é culpa da polícia. Ela acaba sendo usada por maus gestores, que inclusive expõem as vidas dos próprios policiais. (…)

O número de mortos, superando até o de episódios como o massacre do Carandiru, se explica pela força das facções ou pelo tipo de abordagem das forças de segurança nesse episódio?

O crime está cada vez mais armado, mais rico, mais infiltrado nas instituições. E todos esses mais de cem bandidos abatidos, supondo que sejam todos bandidos, amanhã estarão repostos no crime por outros jovens de 14, 15, 16 anos. O que explica esse número de mortos é uma busca frenética e não razoável por causar impacto na opinião pública. Não estou amaciando para bandido, defendo inclusive que as penas para faccionados sejam agravadas, mas o fato é que combater o crime só na favela é enganar a população.

De que maneira?

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública publicou uma pesquisa recente sobre o que é conhecido da receita anual do crime organizado no Brasil: mais de R$ 140 bilhões desde 2022, ou R$ 30 bilhões por ano. A maior parte disso estava no mercado de combustíveis, com R$ 60 bilhões. Afirmo com convicção que nenhum bandido realmente importante no Brasil mora em uma favela, com esse nível de arrecadação. A população mostra um cansaço legítimo com a falta de segurança, mas o governo deveria se guiar pela sobriedade, e não pela busca do impacto ou por cortinas de fumaça. (…)

Corpos retirados do Complexo da Penha. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil