
A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, afirmou nesta quinta-feira (30) que o governo federal vai solicitar uma perícia independente sobre as mortes ocorridas na operação policial dos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro.
A decisão foi anunciada após reunião com familiares das vítimas e representantes da comunidade, realizada na sede da Cufa (Central Única das Favelas). Segundo Macaé, a perícia feita no local “está muito prejudicada” e não oferece garantias de imparcialidade.
A ministra classificou a operação, que resultou em 121 mortes, como “um fracasso, uma tragédia, um horror inominável”. Ela afirmou que o enfrentamento ao crime organizado deve atingir as estruturas de poder e não as favelas.
“Se quisermos combater o crime, temos que começar por cima. Não adianta chegar em nossas comunidades expondo crianças, pessoas idosas e com deficiência a esse pavor”, disse.
Durante o encontro, familiares relataram o desespero vivido durante os confrontos e a busca pelos corpos na mata da Serra da Misericórdia. As falas emocionaram a comitiva, que também contava com os ministros Anielle Franco (Igualdade Racial) e Silvio Almeida (Direitos Humanos e Cidadania), além de deputados como Benedita da Silva, Glauber Braga e Reimont.
Macaé informou que a Polícia Federal disponibilizou peritos para auxiliar na análise independente e que o governo adotará medidas emergenciais de apoio às famílias, incluindo atendimento psicológico e proteção a testemunhas, especialmente crianças. “Segurança pública é um direito de todos, mas não há segurança sem políticas de saúde e educação”, afirmou.

Um morador pediu que o governo cobre a divulgação das imagens das câmeras corporais dos policiais. “Ministra, tem que ter as imagens das câmeras. Não mostraram nada ainda”, disse. Macaé prometeu incluir o pedido na pauta de cobranças oficiais.
Com a voz embargada, a ministra Anielle Franco destacou a importância da escuta das comunidades: “Só quem sabe da favela é o favelado. Ser cria da Maré me faz nunca esquecer de onde vim”. A declaração foi recebida com aplausos pelos presentes.
Enquanto o governo federal promete uma investigação paralela, o governador Cláudio Castro classificou a operação como “um sucesso”. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, quatro policiais morreram durante a ação.
Já o secretário da PM, coronel Marcelo Menezes, defendeu o uso da tática chamada de “muro do Bope”, em que agentes cercaram suspeitos na mata para impedir fugas. A Serra da Misericórdia, área de reflorestamento que cobre bairros como Penha, Alemão e Engenho da Rainha, é usada pelas facções como rota de fuga e local de execuções.