
O governo dos Estados Unidos, presidido por Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (30) uma redução drástica na admissão anual de refugiados, fixando o número máximo em 7.500 pessoas para o ano fiscal de 2026 — o menor patamar da história do programa. A decisão representa uma guinada em relação à política humanitária mantida por décadas pelo país, que chegou a receber mais de 100 mil refugiados por ano durante a gestão de Joe Biden (2021-2025).
De acordo com um memorando da Casa Branca, a maior parte das vagas será destinada a afrikaners, descendentes de colonos europeus brancos da África do Sul, sob a justificativa de que teriam sofrido “discriminação ilegal ou injusta”. A medida contrasta com os apelos do governo sul-africano, que reiterou não haver perseguição contra essa parcela da população. Os primeiros 50 refugiados brancos sul-africanos chegaram aos EUA em maio deste ano.
A decisão segue a linha de campanha de Trump, que prometeu restringir a imigração e deportar milhões de indocumentados. Desde janeiro, o presidente republicano já havia suspendido o Programa de Admissão de Refugiados, retomando-o apenas para os afrikaners. Além disso, o governo revogou o Status de Proteção Temporária (TPS) concedido a cidadãos de países como Afeganistão, Haiti e Venezuela, deixando milhares de imigrantes vulneráveis à deportação.

A política recebeu duras críticas de especialistas e organizações humanitárias. Aaron Reichlin-Melnick, do Conselho Americano de Imigração, afirmou que o programa, antes símbolo de acolhimento global, está sendo “usado como via para a imigração branca”. Já Krish O’Mara Vignarajah, presidente da Global Refuge, declarou que concentrar o acolhimento em um único grupo “mina o propósito e a credibilidade” do sistema humanitário estadunidense.
Trump defendeu a decisão, afirmando que os afrikaners vivem uma “situação terrível” e até um “genocídio” na África do Sul — uma afirmação amplamente contestada por analistas e pelo governo de Pretória. Dados oficiais indicam que os brancos representam apenas 7,3% da população sul-africana, mas ainda detêm dois terços das terras agrícolas e renda média três vezes maior que a da população negra.
O anúncio marca uma ruptura com a política de acolhimento mantida desde 1980, quando mais de 2 milhões de refugiados de guerra e perseguição foram aceitos pelos EUA. A nova diretriz reforça o caráter seletivo da imigração sob o atual governo e sinaliza um retrocesso nos compromissos humanitários do país em meio às crises globais.

