
Por Leonardo Sakamoto
O STF confirmou hoje a condenação da (ainda) deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) por ter perseguido um eleitor do Lula com a qual ela havia batido boca minutos antes, apontando uma arma, da qual ela não tinha porte, pelas ruas de um bairro nobre de São Paulo. A condenação por um crime tão idiota e de caráter miliciano vai ajudar em sua extradição da prisão na Itália para a prisão no Brasil.
Ela fugiu para o país europeu para não ser presa por causa de outra condenação do Supremo Tribunal Federal. Recordar é viver: com a ajuda de um hacker, ela invadiu os sistemas do Conselho Nacional de Justiça e plantou mandados de prisão e ordens de soltura falsos. Pegou dez anos de xilindró. Deu declarações mostrando que sentia-se inalcançável na Itália. Foi presa por lá.
Neste momento, enfrenta um processo de extradição, torcendo para que, caso a Justiça italiana ordene o seu retorno, o governo da primeira-ministra conservadora Giorgia Meloni lhe garanta asilo. Contudo, a invasão do sistemas do CNJ já não era um crime político. Agora, ficou mais difícil ainda, porque o Estado brasileiro vai enviar à Europa a informação de que a deputada pôs em risco a segurança pública.
Zambelli, ao se sentir ofendida, não procurou a Justiça, mas aplicou justiçamento com as próprias mãos, sem se preocupar com as pessoas à sua volta. O que ela fez ali não foi um desentendimento político, como a retórica de sua defesa tentou empurrar goela abaixo da opinião pública. Foi, no seu cerne, um ato de intimidação com ares de milícia. Um abuso de poder ostentado por quem acredita que a arma de fogo é uma extensão de seu mandato, um adereço de campanha para impor o terror aos adversários.
A cena, filmada e amplamente divulgada, é a exata radiografia da mentalidade que se instala quando a elite política se crê acima da lei: a certeza de que pode transformar o espaço público em um palco de faroeste e a democracia em um jogo onde a única regra é a força bruta.
Para as autoridades italianas, o risco de reiteração criminosa e a gravidade dos delitos dessa parlamentar que se refugia no seu território são inegáveis. A violência que ela exerceu na rua é, ironicamente, o que vai tirar qualquer dúvida sobre sua devolução ao Brasil para que, enfim, cumpra sua dívida com a Justiça.
A sentença de cinco anos e três meses por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma serão somados aos dez pela invasão.
O bolsonarismo tem usado caso do pedido de extradição contra a deputada como aríete para bater no STF, tentando mostrar que há perseguição política contra a extrema direita. Mas a única perseguição foi aquela que ela mesmo cometeu. Certamente Bolsonaro, que perdeu votos por Zambeli ter feito essa sandice um dia antes da votação do segundo turno, em outubro de 2022, não vai derramar uma lágrima.
Originalmente publicado por UOL

