
O paranaense César Sinigalha Alvares, de 54 anos, ex-presidente do Clube de Tiro de Apucarana, no norte do Paraná, é apontado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro como um dos principais armeiros do Comando Vermelho (CV). Segundo o Globo, as investigações apontam ele como responsável pela manutenção e reparo de fuzis e metralhadoras usados pela facção em favelas do Complexo do Alemão, na zona norte da capital fluminense.
A trajetória criminosa de Alvares começou há mais de duas décadas. Em abril de 2001, ele foi preso pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao chegar ao Rio de Janeiro em um ônibus com uma carga de armamentos escondida na bagagem. Os agentes encontraram um fuzil, uma metralhadora, 12 granadas e pacotes de munição que, segundo as investigações, seriam entregues a traficantes do CV.
Depois de deixar a prisão, Alvares voltou a ser detido em outras quatro ocasiões. A prisão mais recente ocorreu em maio deste ano, durante a Operação Plexo, conduzida pela 60ª Delegacia de Polícia (Campos Elíseos) em parceria com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
O relatório da operação indica que, em 2023, o armeiro passou a cuidar da manutenção de armas de grosso calibre pertencentes a Jonathan Ricardo de Lima Medeiros, o Dom, um dos líderes do Comando Vermelho na Paraíba, que comanda as operações à distância, escondido no Alemão.
Segundo a polícia, diálogos e vídeos extraídos do WhatsApp de Alvares demonstram “a importância de sua especialidade em serviços de reparo, satisfazendo os pedidos de uma gama de traficantes que possuem acervo próprio, tornando-se peça principal na manutenção de todo o armamento utilizado”.
Em 2006, a Polícia Federal apreendeu um arsenal na chácara onde Alvares vivia com a esposa, em Cambé (PR).

Na ocasião, ele disse em depoimento: “A minha vida inteira, de quinze anos pra cá, foi dedicada a clube de tiro e armeiro. Já fui atirador, era autorizado pelo Exército a dar curso de tiro. Então, para a minha família toda, para quem era meu amigo, ver uma pessoa beber um copo de água é ver eu mexer com arma. A minha vida é isso. Todo mundo sabe que eu sempre fiz isso — Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar”.
A Operação Plexo também revelou ligações de outros dois atiradores esportivos certificados pelo Exército com Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, o Da Roça, um dos chefes do CV no Alemão e oriundo de Rondônia. Em um dos celulares apreendidos, a polícia encontrou uma planilha de gastos que indicava mais de R$ 5 milhões gastos em apenas um mês com compra de armas e munições.
Um dos principais fornecedores de Da Roça seria o atirador Eduardo Bazzana, ex-presidente do Clube Americanense de Tiro, que possuía mais de sete mil associados em São Paulo e duas lojas de armas registradas no Exército. Segundo a investigação, ele recebeu R$ 1,6 milhão em pagamentos de Da Roça pela venda de cartuchos de diversos calibres.
As apurações também apontam outro fornecedor, um atirador esportivo e empresário com loja de armas registrada na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo.
De acordo com o relatório, ele “recebeu depósitos fracionados em sua conta bancária, datados do mesmo dia, indicando querer ocultar movimentações financeiras grandiosas decorrentes da venda de materiais bélicos”. Apesar dos indícios, ele não foi denunciado pelo MPRJ.
A defesa de César Alvares nega as acusações. Em nota à Justiça, afirmou que o cliente é inocente e que “a denúncia se baseia apenas em ilações e presunções, carecendo de justa causa concreta”.
Já os advogados de Eduardo Bazzana alegaram perseguição política contra profissionais do setor. “A partir de 1º de janeiro de 2023, está havendo uma verdadeira caça às bruxas para quem atua nesta área, seja ele Atirador Desportivo, Caçador, Colecionador ou dono de loja ou clubes, como é o caso do Sr. Eduardo Bazzana (…) o único crime que ele cometeu nesta vida toda foi pagar seus impostos e não ser reconhecido como empresário digno e honesto que sempre foi”, diz a nota.