
As famílias das vítimas da Operação Contenção, no Rio de Janeiro, enfrentam um dilema doloroso após a chacina que deixou 121 mortos: pagar ao menos R$ 4 mil por um sepultamento particular ou aceitar o enterro gratuito oferecido pela prefeitura, sem velório e com o caixão fechado. A Defensoria Pública do Estado montou um posto de atendimento no Instituto Médico-Legal (IML) Afrânio Peixoto para orientar parentes e agilizar o acesso ao serviço.
Segundo o defensor público André Castro, a prefeitura disponibiliza o enterro gratuito apenas para quem comprovar vulnerabilidade social. Famílias que não se enquadram nos critérios podem solicitar uma tarifa social, intermediada diretamente pelas funerárias.
“Não precisa de ação judicial, nem nada do tipo. A gente faz a orientação e o contato é direto com as empresas”, explicou. Castro, no entanto, criticou as condições do serviço oferecido pelo município. “Não são condições que consideramos dignas para a despedida dos entes queridos. Mas muitas famílias realmente não têm condições de pagar. Esse tem sido o principal pedido na nossa atuação”, disse.
Em nota, a prefeitura alegou que o serviço gratuito garante um sepultamento “digno” às famílias vulneráveis e que nenhum corpo deixará de ser enterrado por falta de recursos. O município justificou que os caixões precisam ser fechados porque o serviço não inclui o preparo dos corpos.
“Por se tratar de um serviço gratuito, não estão incluídos procedimentos laboratoriais de preparação, o que faz com que os caixões sejam fechados. Também não estão contempladas despesas com velórios”, afirmou a prefeitura.

Enquanto isso, familiares continuam lotando o IML à espera da liberação dos corpos. Muitos aguardam há dois dias por informações. “Eles mandaram colocar o nome na lista e disseram que ligariam quando identificassem. Voltamos hoje e seguimos sem resposta”, contou uma mulher que buscava o sobrinho desaparecido desde segunda-feira.
Outra parente, que procurava o irmão, relatou falta de estrutura no local. “Não tem bombeiro, nem máquina para medir pressão. Ontem muita gente passou mal e não havia quem ajudasse”, afirmou. Do lado de fora, familiares aguardam em pé ou sentados nas muretas, sob o sol.
Até agora, mais da metade dos 117 corpos considerados suspeitos pela polícia foi identificada. As necropsias estão sendo realizadas no IML Afrânio Peixoto, que foi fechado exclusivamente para os mortos da operação. Parte dos corpos será levada para outras cidades — ao menos 17 já seguiram para Manaus e Belém — enquanto outros serão velados em bairros da zona norte, como Irajá e Inhaúma.