
O PT, o PSOL e o PCdoB protocolaram nesta sexta-feira (31) um pedido conjunto no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir o acesso imediato das famílias aos corpos das vítimas da operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, que deixou mais de 120 mortos nos complexos do Alemão e da Penha.
As siglas classificam a ação como um “massacre” e uma das maiores tragédias da segurança pública do estado. O pedido foi apresentado dentro da “ADPF das Favelas”, ação movida pelo PSB em 2019 para monitorar abusos policiais em comunidades cariocas.
Na petição encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, os partidos pedem que as famílias possam reconhecer os corpos acompanhadas por advogados, defensores públicos ou representantes de direitos humanos.
As legendas também solicitam que o governo de Cláudio Castro apresente, em até 48 horas, a lista nominal das vítimas e o destino dos corpos, sob pena de responsabilidade. “A polícia do Rio matou mais do que prendeu. Para cada duas pessoas mortas ou presas, foi apreendida apenas uma arma”, diz o documento.
O texto ainda requer a presença de peritos independentes nas análises conduzidas pela Polícia Civil e uma inspeção urgente da Anvisa no Instituto Médico Legal (IML) da Avenida Francisco Bicalho, no Rio, devido a relatos de condições insalubres.

Para as siglas, há uma tentativa de “violência simbólica” contra as famílias das vítimas, com burocracias que dificultam o reconhecimento e a liberação dos corpos. A iniciativa ocorre em meio a uma crise interna entre o PSB e o grupo de advogados responsáveis pela ADPF das Favelas.
Após a operação que resultou em 121 mortes, o jurista Daniel Sarmento, representante da legenda no Supremo, protocolou uma petição pedindo investigação de eventuais abusos cometidos pelas forças policiais. A medida irritou a direção do PSB, que decidiu substituí-lo no caso.
Segundo integrantes do partido, o pedido de Sarmento não foi previamente autorizado pela cúpula nacional, presidida por João Campos (PSB-PE). O incômodo decorre do receio de desgaste político às vésperas das eleições municipais de 2026, já que parte da opinião pública apoia a atuação policial sob o governo de Cláudio Castro.
O governador fluminense, por sua vez, voltou a criticar duramente a ADPF. Durante entrevista, Castro chamou a decisão do STF de “maldita”, alegando que a medida “prejudicou o combate ao crime” e favoreceu traficantes. “Ainda são o que chamamos de filhotes dessa ADPF maldita”, disse. Segundo ele, a limitação imposta pelo Supremo às operações teria permitido que criminosos se refugiassem nas comunidades.
Moraes deve avaliar os novos pedidos nos próximos dias. Caso acolha as solicitações, a decisão poderá obrigar o governo do Rio a garantir transparência no processo de identificação dos corpos e permitir o acompanhamento independente das perícias.