É isso mesmo, companheiro: a matança tem apoio popular. Por Moisés Mendes

Atualizado em 31 de outubro de 2025 às 20:54
Corpos enfileirados após operação policial com pessoas em volta
Corpos enfileirados após operação policial – Reprodução

Apareceu um adolescente de 14 anos entre os 99 mortos já identificados na chacina do Rio. Chama-se Michel Mendes Peçanha. É só o que se sabe dele.

Também ficamos sabendo que 42 dos já identificados tinham mandados de prisão. E que nenhum dos 99 mortos havia sido denunciado pelo Ministério Público na investigação que levou à matança.

Isso muda o quê no entendimento do brasileiro médio? Não muda nada. A maioria dos brasileiros (55%) e dos cariocas (62%) aprova a chacina, segundo pesquisa do instituto Atlas Intel divulgada nesta sexta-feira.

Se aparecerem mais adolescentes entre os mortos, não muda nada. Nem se identificassem crianças. Tribunais do júri no Rio, em que os julgadores são gente do povo, absolvem policiais que matam crianças com ‘balas perdidas’.

Porque a bala perdida é sempre um risco para quem está por perto, e um policial está autorizado a atirar em quem se mexer.

Se aparecerem 10 idosos entre os mortos, não muda nada. O brasileiro médio quer ações justiceiras, desde muito antes da Lava-Jato. Porque a maioria, como mostra a pesquisa, deseja julgamentos sumários. Matem e resolvam tudo.

Mas, dirá alguém, as armas foram obtidas pela bandidagem nos CACs incentivados pela extrema direita bolsonarista. Não importa. Traficante e milícia são tudo a mesma coisa. Não importa.

Ah, mas mataram só bandido ajudante do bandidão e não têm nenhum troféu para mostrar, com o nome e a cara de um chefe do tráfico. Não importa.

O plano de Cláudio Castro é parte do projeto de todo o fascismo nacional de tentar ressuscitar depois de tantas derrotas. Não importa. O povo não quer saber, a classe média muito menos. Querem matança.

Ficaremos sabendo nos próximos dias de detalhes dos horrores da matança, com coisas escabrosas da ação policial. Não vai importar muito.

Precisamos esperar que o impacto da chacina seja decantado, para quem sabe resultar em outra compreensão que não seja o apoio maciço ao que aconteceu na Penha e no Complexo do Alemão.

A opinião média será alterada com o tempo? Vai depender da persistência e do poder de convencimento da extrema direita e da capacidade de reação do governo, de Lula, das instituições e do que ainda chamam de sociedade organizada.

Pode acontecer até de o apoio popular a Cláudio Castro ser expandido e fortalecido. Se a extrema direita perceber que pode avançar, com respaldo da maioria, podem sair matando amanhã.

Matam em nome do que Castro define como “o início de um novo tempo”. Não duvidem de mais nada.