
Imagens de satélite divulgadas pela Universidade de Yale confirmam novos massacres em El-Fasher, cidade de Darfur tomada pelo grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR) há quase uma semana. O levantamento identificou ao menos 31 pontos com possíveis corpos humanos em áreas residenciais, universitárias e militares, indicando que a matança prossegue. O conflito entre as FAR e o Exército do Sudão, em curso há quase três anos, já provocou milhares de mortes e o colapso total das comunicações na região.
A conquista de El-Fasher pelas FAR, após um cerco de 18 meses, consolidou o domínio paramilitar sobre as cinco principais cidades de Darfur e expulsou as tropas do general Abdel Fatah al-Burhan, chefe do Exército e líder de facto do país. A organização, comandada por Mohammed Hamdan Dagalo, agora controla o oeste do Sudão e tem sido acusada de genocídio contra minorias étnicas, retomando práticas de extermínio semelhantes às de duas décadas atrás. O Exército, por sua vez, também é acusado de crimes de guerra.
Sobreviventes relataram execuções sumárias, estupros, saques e ataques a civis. Uma mãe descreveu ter perdido o filho de 16 anos dentro de casa, morto por combatentes das FAR. Outros refugiados disseram ter visto crianças baleadas e cadáveres espalhados pelas ruas. A organização Médicos Sem Fronteiras afirma que a maioria dos habitantes pode estar morta, detida ou escondida, já que quase não há sinais de fuga. Segundo a ONU, 65 mil pessoas conseguiram escapar, mas dezenas de milhares permanecem presas.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, classificou a situação como “a maior crise humanitária do mundo”. Ao lado da chanceler britânica Yvette Cooper e do chanceler da Jordânia, Ayman Safadi, ele pediu responsabilização imediata das FAR. O Reino Unido anunciou um novo pacote de ajuda de 6,6 milhões de dólares, além de outras 120 milhões de libras já destinadas ao país. A chanceler britânica descreveu relatos “verdadeiramente horríveis” de estupros em massa e execuções.
As FAR afirmaram ter detido combatentes envolvidos em atrocidades, entre eles um comandante filmado durante execuções. O grupo diz respeitar “a lei e a disciplina militar”, mas a ONU duvida da seriedade das investigações. O subsecretário-geral Tom Fletcher pediu que os países parem de armar as FAR, após denúncias de que os Emirados Árabes forneceram drones e armamentos — o que Abu Dhabi nega. O Exército sudanês teria recebido apoio de Egito, Irã e Arábia Saudita, segundo a Reuters.
A escalada em Darfur reacende o temor de um novo genocídio no Sudão. Com El-Fasher sob controle paramilitar, o país se vê dividido em dois blocos: o Exército no norte, centro e leste, e as FAR no oeste. Funcionários da ONU alertam que a violência já se espalha para a região vizinha de Kordofan, com relatos de atrocidades em larga escala. Para as Nações Unidas e organizações humanitárias, a combinação de fome, deslocamento e massacres faz do Sudão o epicentro da pior tragédia humanitária do século.