
O Brasil registrou em 2024 o maior número de mortes infantis por doenças evitáveis com vacina desde 2015. Segundo dados preliminares do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, 48 crianças menores de cinco anos morreram por causas que poderiam ter sido prevenidas pela imunização. O total representa uma alta de 220% em relação a 2021, quando foram registrados apenas 15 óbitos, e marca o terceiro ano consecutivo de crescimento, em meio à lenta recuperação das coberturas vacinais.
A principal causa das mortes foi a coqueluche, que vitimou 21 crianças e voltou a ser registrada após três anos sem casos fatais no país. A bactéria Bordetella pertussis causa infecção respiratória grave em bebês e pode ser evitada com a vacina pentavalente, aplicada aos 2, 4 e 6 meses de idade, além da DTPa, indicada para gestantes em todas as gestações. Em 2024, o Observatório de Saúde na Infância contabilizou 2.152 casos de coqueluche em menores de cinco anos — aumento de 1.200% em relação aos cinco anos anteriores somados.
Além da coqueluche, o relatório do SIM aponta outras doenças imunopreveníveis como causa de morte: tuberculose do sistema nervoso (13 casos), meningite bacteriana (9), tuberculose miliar (2), difteria (1), caxumba (1) e doenças virais congênitas (1). Todas possuem vacinas disponíveis no calendário nacional de imunização do SUS. Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, os números “são reflexo direto da queda nas coberturas vacinais entre 2019 e 2021”, agravada pela desinformação e pela falta de doses em alguns períodos.

O especialista destaca ainda que os dados oficiais subestimam a dimensão do problema, pois não incluem doenças como covid-19 e influenza, também preveníveis por vacina. Somente a gripe matou 116 crianças de até quatro anos em 2024, segundo registros do Ministério da Saúde. Para Cunha, “as falhas na vacinação de gestantes e bebês e a redução da adesão às campanhas nacionais contribuíram diretamente para o aumento das mortes”.
Os estados do Sudeste e Sul concentraram a maioria dos casos: São Paulo (7), Minas Gerais (4), Rio de Janeiro (5), Paraná (5) e Santa Catarina (5) lideram as estatísticas. Ao todo, 17 estados e o Distrito Federal tiveram registros de mortes evitáveis. Apesar de historicamente apresentarem melhores indicadores de saúde, essas regiões foram as mais afetadas pela descontinuidade da imunização infantil nos últimos anos.
As entidades médicas alertam que, mesmo com leve recuperação em 2023 e 2024, o Brasil ainda não atingiu as metas de cobertura vacinal. O cenário é considerado grave porque doenças erradicadas ou controladas voltam a circular.