
O plano do presidente Donald Trump de quadruplicar as importações de carne bovina da Argentina gerou revolta entre pecuaristas americanos, tradicionalmente aliados do Partido Republicano. A proposta, revelada em outubro, visa reduzir os preços do produto nos EUA, mas produtores rurais afirmam que ela representa uma “traição aos criadores americanos”, segundo reportagem da BBC News Mundo.
Atualmente, os EUA importam cerca de 20 mil toneladas anuais de carne argentina, número que poderia subir para 80 mil toneladas sob o novo acordo. Trump declarou que “comprar carne da Argentina fará os preços caírem”, mas a reação foi imediata. “Sentimos que ele nos vendeu a um concorrente estrangeiro”, disse o criador Christian Lovell, de Illinois. A medida, segundo ele, desrespeita quem sustenta a produção nacional “com suor e dívidas”.
A secretária de Agricultura, Brooke Rollins, tentou amenizar a polêmica ao afirmar que o aumento “não será significativo”, mas as entidades de classe pressionaram o governo. A Casa Branca reagiu com um pacote de compensações financeiras ao setor. A irritação, porém, persiste — especialmente após Trump conceder um resgate de US$ 20 bilhões ao governo argentino de Javier Milei, o que os produtores consideraram mais um sinal de favorecimento externo.
Economistas ouvidos pela BBC avaliam que a carne argentina representa apenas 2,1% das importações americanas, o que torna improvável um impacto real nos preços. O maior fornecedor dos EUA continua sendo o Brasil, responsável por 23% das compras, seguido de Austrália, Canadá e México. Mesmo assim, o anúncio provocou insegurança entre criadores, já fragilizados pela seca e pela queda histórica do rebanho, o menor em 74 anos.
Os produtores argumentam que não controlam o valor final da carne, dominado por quatro grandes processadoras que concentram 80% do mercado. “O problema não é a Argentina, é o monopólio das indústrias”, disse Lovell. Ainda assim, o aumento da concorrência externa é visto como ameaça ao setor, que enfrenta altos custos de alimentação e crédito.
Para analistas, a medida evidencia o dilema entre “América Primeiro” e pragmatismo econômico. O professor David Anderson, da Universidade Texas A&M, explicou que, embora o impacto direto da carne argentina seja pequeno, o gesto político é simbólico. “Trump tenta conter a inflação alimentar, mas arrisca desagradar sua base rural — o mesmo público que o levou à Casa Branca.”