
Perdedores de facções da extrema direita, abandonados e desprezados pelas chefias, transformam-se em bocas grandes, traidores e delatores. O bolsonarismo está lotado de desprezados, arrependidos e ressentidos. A investigação e o julgamento dos golpistas expuseram muitos deles.
Detalhes do planejamento e da execução da chacina que aconteceu no Rio são do conhecimento de muita gente que está e esteve na área da segurança. São profissionais que sabem de coisas que não devemos saber. Coisas escabrosas.
Cláudio Castro, o mandante da chacina, mexe e remexe nas estruturas da segurança que herdou de Wilson Witzel, para acomodar gente sua numa área de desconfianças. Quem conhece esses pântanos sabe que há muita podridão submersa, principalmente no governo do Rio.
Castro pode não temer as investigações intermináveis que podem ser acionadas em torno dos personagens e do cenário da matança, as câmeras corporais desligadas, o abandono dos corpos na mata, a perícia do IML.
Mas deve se preocupar com a presença de Alexandre de Moraes no cenário pós-chacina, não para ouvir soldados, mas comandantes. Castro é o chefe de todos os que se envolveram no acontecido no Complexo do Alemão e na Penha.
🚨AGORA: Alexandre de Moraes CHEGOU para colocar ORDEM no Rio de Janeiro.
– O governador Bolsonarista METIDO A VALENTÃO ficou PIANINHO! 🤫🤫
O BRASIL QUER RESPOSTA! #PecDaSegurançaJá pic.twitter.com/J1IYSO2rjJ
— Pedro Rousseff (@pedrorousseff) November 3, 2025
Moraes foi ao Rio nessa segunda-feira para ouvir o governador e sua polícia sobre o que aconteceu, na condição de relator da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) das Favelas. O ministro já sabe o que aconteceu. Foi um cerco para a produção do espetáculo da matança.
Sabe que foi uma chacina, como já sabia, na condução das investigações dos golpistas, que aquilo havia sido um golpe. Sabia e foi fechando o cerco, pelas bordas, até chegar ao núcleo e alcançar civis e fardados que tentaram derrubar Lula.
Os golpistas não teriam sido alcançados por Polícia Federal, Ministério Público e Supremo sem a ajuda dos que deixaram rastros do plano e também dos que levaram a Justiça, por confissão, aos que tramaram e tentaram executá-lo.
A condenação de Bolsonaro teria sido mais difícil sem as informações de Mauro Cid. Braga Netto, preso ainda hoje preventivamente, poderia até ser condenado, mas o trabalho de investigadores, acusadores e julgadores foi facilitado pelas informações de seu colega Freire Gomes.
Cláudio Castro deve estar se dedicando, desde a execução da chacina, a apagar as pegadas dele e dos seus comandados. Foi o que Bolsonaro e os comparsas tentaram fazer. O próprio Braga Netto foi encarcerado, antes de julgado, por tentar desfazer rastros.

Castro é governador, tem imunidades, dispõe de forte base religiosa e apresenta-se desde a semana passada como líder da direita, e não só do fascismo. Uma dezena de governadores exalta o colega como o exemplo a ser seguido.
É seu trunfo hoje. A antiga direita e a nova extrema direita fortaleceram Castro com manifestações das suas lideranças com mandato. Os governadores foram os primeiros a dizer que estavam juntos.
Esse é o suporte político a ser enfrentado pelos que desejam investigá-lo e enquadrá-lo como criminoso por ter sido o mandante de uma ação arbitrária. Não vai ser fácil.
Mas informantes existem para atenuar culpas e penas e para ajudar no esclarecimento de crimes. Na investigação do golpe, Freire Gomes falou porque teria compromisso com a verdade, e Mauro Cid porque foi abandonado.
O desvendamento da matança é de outro departamento e passa por enfrentamentos políticos, em todas as frentes, dos governos às redes sociais, e por investigações que geralmente frustram quem muito espera de sindicâncias sobre casos semelhantes.
Mas Alexandre de Moraes, com a sua expertise, como diria o estagiário de uma fintech do PCC na Faria Lima, está na parada e pode cercar os chefes da matança a partir das bordas. Que os informantes tragam seus rastros e se apresentem na hora certa.