
A Polícia Civil da Bahia deflagrou nesta terça-feira (4) a Operação Freedom, que tem como objetivo desarticular os núcleos armado e financeiro do Comando Vermelho no estado. Sem mortes, a ação resultou na prisão de 31 suspeitos e no cumprimento de 46 mandados de busca e apreensão em cidades da Bahia e do Ceará. Ao todo, a Justiça autorizou 90 ordens judiciais, incluindo o bloqueio de 51 contas bancárias ligadas à facção.
À Folha, a corporação informou que os alvos são investigados por crimes como homicídio e tráfico de drogas em Salvador e outras cidades baianas. As autoridades afirmam que os resultados da operação poderão ajudar na elucidação de cerca de 30 assassinatos ocorridos recentemente na capital. Nenhuma pessoa morreu durante a ação policial.
Em Salvador, as ações se concentraram nos bairros da Liberdade, Pernambués, Narandiba, Uruguai e Areia Branca, áreas consideradas estratégicas para o Comando Vermelho. Mandados também foram cumpridos nos municípios de Aratuípe e Ilhéus, na Bahia, e em Eusébio, no Ceará.
Mais de 400 agentes das polícias Civil e Militar participaram da operação, que contou ainda com o apoio da Polícia Civil do Ceará e da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco-BA). O grupo reúne forças de segurança estaduais e federais em uma frente unificada de combate às organizações criminosas.
Segundo as investigações, a Operação Freedom busca atingir diretamente a estrutura financeira do Comando Vermelho na Bahia, com a apreensão de armas, veículos, bens e recursos ilícitos.
“O objetivo é enfraquecer a capacidade de atuação da facção, prender lideranças e interromper o fluxo de dinheiro que sustenta o domínio territorial e os homicídios”, afirmou a Polícia Civil.
A ofensiva baiana ocorre poucos dias após a megaoperação no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão e se tornou a mais letal da história do país.

A Operação Contenção, realizada no Rio, revelou indícios de articulação entre líderes do Comando Vermelho e suas bases no Norte e Nordeste, o que motivou a intensificação de ações integradas em outros estados.
De acordo com o Relatório do Mapa de Orcrim 2024, elaborado pelo Ministério da Justiça, o Comando Vermelho atua hoje em pelo menos 22 estados brasileiros.
Na Bahia, a facção passou a se consolidar a partir de 2020, após absorver o grupo local Comando da Paz. A aliança abriu novas rotas para o tráfico de drogas e armas, ampliando a influência da organização e agravando disputas territoriais com rivais.
A principal adversária do Comando Vermelho no estado é a facção Bonde do Maluco (BDM), aliada do Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. A rivalidade entre os dois grupos é apontada como uma das causas da escalada da violência em bairros periféricos de Salvador e em municípios do interior.
O relatório do Ministério da Justiça também revelou que pelo menos 21 facções criminosas operam na Bahia, tornando o estado um dos epicentros da atividade de organizações criminosas no país.
A Bahia lidera o ranking nacional de letalidade policial em números absolutos. Entre janeiro e setembro deste ano, foram registradas 1.252 mortes resultantes de ações das forças de segurança, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Diante do cenário, o governo Jerônimo Rodrigues (PT) estabeleceu como meta reduzir em 10% por semestre os índices de mortes decorrentes de confrontos policiais nos próximos três anos. A nova operação é vista como parte da estratégia de enfraquecer financeiramente as facções sem ampliar o número de vítimas.