RJ: Pupilo de delegado preso ganha força na sucessão de Castro após massacre

Atualizado em 4 de novembro de 2025 às 19:15
Felipe Curi, secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Foto: Mauro Pimentel/AFP


O secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegado Felipe Curi, tem ganhado destaque após a operação que deixou pelo menos 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, deflagrada na terça (28). Desde então, Curi participou de entrevistas e mesas-redondas para explicar a ação contra o Comando Vermelho, aumentando sua exposição pública. Pesquisas de opinião internas apontaram apoio da maioria da população à operação, o que fortaleceu o grupo político do governador Cláudio Castro. Com informações da Folha de S.Paulo.

Nos bastidores do governo estadual, aliados citam Curi como possível pré-candidato à sucessão de Castro, que já foi reeleito e pretende disputar uma vaga no Senado. A atual estrutura da segurança no estado é dividida em três secretarias: Segurança Pública, Polícia Militar e Polícia Civil, esta última sob comando de Curi. O delegado foi procurado por sua assessoria na segunda (3), mas não se manifestou até a publicação da reportagem.

A trajetória de Curi é ligada ao delegado Allan Turnowski, preso pela primeira vez em 2022 sob acusação de colaborar com chefes do jogo do bicho e receber propina. Turnowski, que chefiou a Polícia Civil em duas gestões, nega irregularidades e afirma ter combatido milícias e tráfico. Neste ano, ele voltou a ser preso, mas foi solto por decisão do STJ, cumprindo medidas cautelares.

O delegado Allan Turnowski ao lado do governador Cláudio Castro, em ato da campanha. Reprodução Instagram

Fotos de 2022 mostram Curi participando de uma carreata organizada em apoio a Turnowski após sua soltura. Em investigação sobre o ex-delegado Maurício Demétrio, uma conversa recuperada do celular dele registra Turnowski chamando Curi de “nosso” ao avaliar possíveis sucessores no comando da Polícia Civil em setembro de 2020. A relação entre os dois é comentada entre integrantes da corporação.

Quando foi nomeado secretário em 2024, O Globo informou que o nome de Curi teria sido indicação de Turnowski. Na ocasião, Curi declarou ser ligado “somente a Deus” e afirmou fazer parte apenas da Polícia Civil. Ele também já chefiou a Delegacia de Combate às Drogas e o Departamento Geral de Polícia Especializada, com atuação direta em grandes operações.

Curi foi baleado no ombro durante ação no complexo do Alemão em 2016, durante as Olimpíadas. Em setembro passado, já como secretário, ele se autocondecorou com a medalha Coragem, destinada a policiais baleados em confrontos durante operações ou diligências. A honraria chamou atenção por ter sido proposta pelo próprio homenageado.

A atuação de Turnowski como secretário entre 2020 e 2022 incluiu a operação que ficou conhecida como massacre do Jacarezinho, em maio de 2021, com 27 mortos. Na ocasião, a corporação de Curi, então titular do departamento especializado, teve papel central no planejamento. Turnowski usou o número de vítimas, 2227, como seu número de candidatura a deputado federal pelo PL em 2022.

Pesquisas internas no governo apontam que o desgaste provocado por grandes operações não afetou o núcleo político de Castro, que tem buscado manter discurso de enfrentamento ao crime organizado. Aliados veem na exposição de Curi um teste para possíveis disputas de 2026, em meio à reorganização de forças de segurança no estado.

Apesar das citações e ligações, Curi mantém rotina de trabalho e participa de entrevistas para explicar protocolos adotados na operação dos complexos da Penha e do Alemão. Ele é descrito por colegas como adepto de ações de grande porte, apreciador de heavy metal e baterista em horários de folga.