“Quando o cristão comemora a morte, o Evangelho se cala”, diz arcebispo sobre chacina no Rio

Atualizado em 5 de novembro de 2025 às 8:36
Dom Luiz Fernando Lisboa e o Papa Francisco

O arcebispo de Cachoeiro de Itapemirim (ES), Dom Luiz Fernando Lisboa, publicou um artigo contundente no site da CNBB sobre a reação de parte da sociedade à operação policial no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos.

No texto, o religioso afirma que “quando a sociedade celebra o sangue derramado, o Evangelho se cala — e com ele morre um pouco da nossa humanidade”.

Para Dom Luiz, a banalização da morte revela “uma fé adoecida e uma espiritualidade atrofiada”. Ele recorda que a Igreja, desde os primeiros séculos, ensina que a vida é dom de Deus e que ninguém tem o direito de destruí-la.

“Cada pessoa — inclusive quem errou, quem caiu, quem se perdeu — é imagem e semelhança de Deus. Toda morte é uma perda para a humanidade, não uma vitória”, escreveu.

O arcebispo cita também o Papa Francisco, ao lembrar que “nenhuma paz é duradoura quando se constrói sobre o sangue dos irmãos”, e reforça que justiça sem misericórdia se transforma em vingança.

“Defender a vida não é proteger o crime, mas reafirmar que o mal se vence com o bem”, destacou, defendendo políticas de segurança aliadas à educação, à escuta e ao cuidado.

Em tom pastoral, Dom Luiz propõe uma “revolução da compaixão”. Segundo ele, evangelizar hoje significa mudar a lógica social que transforma tragédias em espetáculo e sofrimento em torcida. “A prevenção — na saúde, na educação e na segurança — é a nova revolução cristã: cuidar antes que o mal aconteça, estender a mão antes que o outro caia”, escreveu.

O artigo termina com um apelo à coerência e à ternura: “Ser cristão é acreditar que a vida tem sempre a última palavra. Diante da violência e do ódio, somos chamados a trocar a vingança pela compaixão. Quando o mundo aplaude a destruição, o Evangelho nos envia a reconstruir. Como disse o Papa Francisco: ‘Quando você comemora a morte de alguém, o primeiro que morreu foi você mesmo.’”