
Em seu primeiro discurso após ser eleito prefeito de Nova York, o democrata Zohran Mamdani fez duras críticas à elite econômica dos Estados Unidos e prometeu romper com o sistema que, segundo ele, favorece bilionários e penaliza a classe trabalhadora. O político de origem ugandense e indiana, que será primeiro estrangeiro e muçulmano a comandar a maior cidade do país, venceu as eleições na última terça-feira (4) com uma plataforma voltada à taxação dos super-ricos, defesa dos sindicatos e ampliação de direitos sociais.
Diante de uma multidão reunida no Queens, Mamdani declarou que os bilionários “tentam convencer quem ganha 30 dólares por hora de que seus inimigos são os que ganham 20”. Para ele, a estratégia da elite econômica seria dividir a população para impedir transformações estruturais.
Mamdani também venceu o apoio massivo dos bilionários ao ex-governador Andrew Cuomo, que recebeu US$ 22 milhões de investimento de campanha de um pequeno grupo de empresários.
“Eles querem que o povo lute entre si, para que permaneçamos distraídos do trabalho de refazer um sistema quebrado há muito tempo. Nós nos recusamos a deixar que eles ditem as regras do jogo. Eles podem jogar pelas mesmas regras que o resto de nós”, afirmou.
O novo prefeito, de 34 anos, discursou com tom combativo e mencionou Donald Trump diretamente, chamando-o de símbolo da corrupção e do poder concentrado nas mãos dos bilionários.
“Se alguém pode mostrar a uma nação traída por Donald Trump como derrotá-lo, é a cidade que o criou”, disse, em referência à origem do ex-presidente em Nova York. “E se há uma forma de aterrorizar um desesperado, é desmontando as condições que permitiram a ele acumular poder. Isso não é apenas como paramos Trump — é como paramos o próximo”.
Ao falar sobre sua futura gestão, Mamdani prometeu enfrentar os grandes proprietários e os ricos que se beneficiam de brechas fiscais. “Vamos responsabilizar maus proprietários porque os Donald Trumps da nossa cidade ficaram confortáveis demais explorando seus inquilinos. Vamos pôr fim à cultura de corrupção que permite a bilionários como Trump escapar da tributação e explorar isenções fiscais”, disse.
Ele também reafirmou apoio aos sindicatos e defendeu uma cidade mais justa para os trabalhadores. “Ficaremos ao lado dos sindicatos e ampliaremos as proteções trabalhistas, porque sabemos, assim como Donald Trump sabe, que quando os trabalhadores têm direitos inabaláveis, os chefes que tentam explorá-los se tornam muito pequenos”.
Mamdani destacou o caráter multicultural da cidade e reafirmou a defesa dos imigrantes. “Nova York continuará sendo uma cidade de imigrantes — construída por imigrantes, movida por imigrantes e, a partir desta noite, liderada por um imigrant”.
Ele encerrou o discurso com uma mensagem direta ao presidente estadunidense: “Então me ouça, presidente Trump, quando eu digo isso: para chegar a qualquer um de nós, você terá que passar por todos nós”.
Um novo perfil para a política nova-iorquina
Em tom inspirador, o prefeito eleito reconheceu os desafios de governar a cidade mais populosa do país. “Quando entrarmos na prefeitura em 58 dias, as expectativas serão altas. Nós as cumpriremos”, declarou. C
itando a famosa frase de um ex-prefeito nova-iorquino, completou: “Enquanto se faz campanha em poesia, governa-se em prosa. Se isso for verdade, que a prosa que escrevermos ainda rime — e que construamos uma cidade brilhante para todos”.
Mamdani também ironizou as críticas recebidas durante a campanha, que o apontavam como “radical”. “Sou jovem, apesar dos meus esforços para parecer mais velho. Sou muçulmano. Sou socialista democrático. E, o mais condenável de tudo, me recuso a pedir desculpas por isso”, afirmou, sendo ovacionado.
O novo prefeito concluiu o discurso dizendo que sua vitória representa uma virada dentro do próprio Partido Democrata. “Por muito tempo, nos curvamos ao altar da cautela e pagamos um alto preço. Muitos trabalhadores já não se reconhecem em nosso partido. Hoje deixamos a mediocridade no passado. Não precisaremos mais abrir um livro de história para provar que os democratas podem ousar ser grandes”.