
Publicado originalmente no Instituto Fome Zero
A COP30 anuncia um momento singular na história ambiental recente: pela primeira vez, a maior conferência do clima das Nações Unidas se realizará em território amazônico, reunindo na cidade de Belém representantes de quase duzentos países. O encontro carrega um peso simbólico e prático — a floresta que abriga um quinto das espécies do planeta torna-se palco das negociações mais delicadas sobre o futuro do aquecimento global. Em meio a uma conjuntura marcada por promessas de descarbonização, pressões econômicas e a urgência dos desastres climáticos, a conferência pretende renovar compromissos e medir o alcance real do Acordo de Paris. A Amazônia, com sua imensa diversidade biológica e social, oferece um cenário que é, ao mesmo tempo, alerta e esperança.
Neste contexto, compreender o vocabulário que estrutura as conversas sobre o clima é compreender também o espírito da própria COP. O glossário da COP30 propõe um mergulho nesse idioma técnico e político que, por meio de siglas, expressões e conceitos, traduz os esforços humanos de equilibrar ciência, diplomacia e justiça ambiental. Longe de ser apenas um repositório de definições, ele funciona como mapa interpretativo — uma ponte entre os termos oficiais e a vida cotidiana, entre as negociações globais e as realidades locais. Cada palavra, cada termo, cada sigla carrega a densidade de um compromisso e a promessa de um mundo ainda possível.
Glossário COP30 — Termos e conceitos essenciais das negociações climáticas
O universo das COPs — Conferências das Partes da ONU — abriga uma linguagem própria, formada por siglas, expressões e compromissos que descrevem o esforço coletivo de conter o aquecimento global. Este glossário reúne, em ordem alfabética, os principais termos que orientam as políticas climáticas internacionais e moldam o debate da COP30, a ser realizada em Belém, no coração da Amazônia.
1,5°C
Limite ideal de aumento da temperatura média global até meados do século XXI, em relação ao período pré-industrial (1850–1900). Esse é o objetivo máximo considerado seguro para evitar impactos irreversíveis das mudanças climáticas, conforme o Acordo de Paris.
Acordo de Paris
Tratado global firmado em 2015, durante a COP21, com o propósito de limitar o aquecimento do planeta a bem menos de 2°C, buscando não ultrapassar 1,5°C. Define metas nacionais de redução de emissões e exige atualização periódica dos compromissos (NDCs). É o principal marco jurídico e político da governança climática internacional.
Adaptação
Processo de ajuste de sistemas naturais e humanos aos efeitos presentes e esperados das mudanças climáticas, reduzindo vulnerabilidades e fortalecendo a resiliência. Inclui medidas como a proteção de comunidades vulneráveis, o manejo sustentável da água e a adaptação da agricultura a novos regimes climáticos.
Adaptação e Mitigação Climática
Duas estratégias complementares: a mitigação busca reduzir as emissões de gases de efeito estufa; a adaptação procura preparar sociedades e ecossistemas para os impactos já em curso. Uma não substitui a outra — ambas são indispensáveis.
Agenda de Ação
Instrumento criado para conectar compromissos de governos, empresas e organizações à implementação de ações concretas de mitigação e adaptação.
AOSIS (Aliança dos Pequenos Estados Insulares)
Coalizão de países insulares ou costeiros de baixa altitude, altamente vulneráveis ao aumento do nível do mar e a eventos climáticos extremos. Atua em defesa de maior ambição nas metas globais.
Artigo 6
Parte do Acordo de Paris que estabelece as regras para a cooperação internacional e a criação de um mercado global de carbono, permitindo a comercialização de créditos de emissões.
Baku to Belém Roadmap
Roteiro de transição entre as COPs 29 e 30, conectando as metas de financiamento climático de Baku (2024) às de Belém (2025). Prevê a mobilização de até US$ 1,3 trilhão por ano até 2035.
Balanço Global (GST – Global Stocktake)
Processo de avaliação, a cada cinco anos, do progresso coletivo na execução do Acordo de Paris. O primeiro foi realizado na COP28 e seus resultados orientam as novas metas climáticas.
Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (MDBs)
Instituições financeiras que apoiam países em desenvolvimento na criação de políticas e projetos voltados à mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Bioeconomia
Modelo de desenvolvimento sustentável que utiliza recursos biológicos renováveis para gerar energia, produtos e serviços. Combina inovação tecnológica, conservação ambiental e valorização da biodiversidade, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. Na Amazônia, representa a convergência entre economia, floresta e futuro.
BTR (Relatórios Bienais de Transparência)
Documentos apresentados pelos países a cada dois anos, conforme o Acordo de Paris, detalhando suas emissões e políticas climáticas. Aumentam a transparência e permitem comparar o avanço global.
CAF (Quadro de Adaptação de Cancún)
Estrutura criada na COP16 (2010) para fortalecer ações de adaptação, promovendo apoio técnico e financeiro a países em desenvolvimento.
Campeão Climático de Alto Nível (HLCC)
Representante nomeado pelo país-sede da COP para articular ações entre governos, setor privado e sociedade civil. Atua como catalisador de compromissos e porta-voz das iniciativas não governamentais.
Carbono equivalente (CO₂e)
Unidade de medida que converte diferentes gases de efeito estufa em uma base comum, o dióxido de carbono, de acordo com seu potencial de aquecimento global.
Compensação de carbono
Mecanismo que permite neutralizar emissões por meio de investimentos em projetos que reduzem ou capturam gases de efeito estufa, como reflorestamento ou manejo sustentável.
Compromisso de Sevilha
Iniciativa voltada a tornar o sistema financeiro global mais acessível e voltado à sustentabilidade, reduzindo dívidas e incentivando investimentos verdes.
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)
Tratado internacional adotado em 1992, durante a Eco-92, que serve de base para todas as negociações climáticas. Reúne 198 signatários e coordena esforços globais para estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.
COP (Conferência das Partes)
Reunião anual dos países signatários da UNFCCC, em que se negociam medidas globais para enfrentar as mudanças climáticas. A COP30, em Belém, é a primeira sediada em território amazônico.
Economia de Baixo Carbono
Modelo de crescimento que busca reduzir as emissões de gases de efeito estufa por meio do uso de energias limpas, inovação e eficiência no uso de recursos.
Eliminação Gradual (Phase-out)
Redução planejada e progressiva do uso de combustíveis fósseis, com substituição por fontes renováveis.
Emissões
Liberação de gases de efeito estufa na atmosfera a partir de atividades humanas, como transporte, indústria e desmatamento.
Emissões Líquidas Zero (Net Zero)
Situação em que a quantidade de gases de efeito estufa emitida é equilibrada pela remoção da mesma quantidade da atmosfera, seja por meios naturais ou tecnológicos.
Escopos 1, 2 e 3
Categorias que medem as emissões corporativas:
- Escopo 1 – emissões diretas;
- Escopo 2 – emissões indiretas associadas ao uso de energia;
- Escopo 3 – emissões indiretas de toda a cadeia produtiva.
Financiamento Climático
Recursos públicos e privados destinados a ações de mitigação e adaptação, especialmente em países em desenvolvimento. É um dos pilares das negociações internacionais e tema central da COP30.
Fundo de Perdas e Danos
Mecanismo criado para apoiar financeiramente países afetados por eventos climáticos extremos, reconhecendo que certos impactos não podem ser evitados nem compensados por outros meios.
GCF (Fundo Verde para o Clima)
Fundo internacional criado na COP16 para apoiar projetos de mitigação e adaptação em países em desenvolvimento.
GEE (Gases de Efeito Estufa)
Gases que retêm calor na atmosfera, provocando o aquecimento global. Os principais são o dióxido de carbono (CO₂), o metano (CH₄) e o óxido nitroso (N₂O).
GGA (Meta Global de Adaptação)
Compromisso firmado no Artigo 7 do Acordo de Paris para fortalecer a resiliência dos países e reduzir vulnerabilidades diante dos impactos climáticos.
Governança Climática
Conjunto de políticas, instituições e mecanismos que coordenam as ações globais e nacionais de mitigação, adaptação e financiamento climático.
IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima)
Principal órgão científico da ONU sobre o tema, criado em 1988. Produz relatórios periódicos que sintetizam o estado do conhecimento sobre o clima e orientam decisões políticas.
IPLCs (Povos Indígenas e Comunidades Locais)
Grupos que vivem em territórios tradicionais e mantêm relações diretas com a natureza. São responsáveis pela proteção de grande parte da biodiversidade mundial e desempenham papel essencial na preservação ambiental.
JTWP (Programa de Trabalho de Transição Justa)
Conjunto de políticas e estratégias que apoiam países e trabalhadores na transição para economias de baixa emissão, garantindo inclusão social e geração de emprego verde.
Livro de Regras de Paris
Conjunto de diretrizes que operacionalizam o Acordo de Paris, detalhando como os países devem medir e reportar suas metas.
LTS (Estratégia Climática de Longo Prazo)
Documento no qual cada país apresenta seu plano de descarbonização até meados do século, alinhado à meta de emissões líquidas zero.
LULUCF (Uso da Terra, Mudança do Uso da Terra e Florestas)
Categoria que engloba atividades agrícolas, florestais e de manejo do solo, fundamentais para o cálculo de emissões e remoções de gases de efeito estufa.
Mercado de Carbono
Sistema de compra e venda de créditos correspondentes à redução de uma tonelada de CO₂. Pode ser voluntário ou regulado. O Brasil instituiu, em 2024, o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), que será destaque na COP30.
Mitigação
Ações que reduzem ou evitam emissões de gases de efeito estufa, como o uso de energias renováveis, reflorestamento e eficiência energética.
NAPs (Planos Nacionais de Adaptação)
Planos nacionais que orientam políticas e investimentos em adaptação, fortalecendo a resiliência climática de cada país.
NCQG (Nova Meta Quantificada Coletiva)
Nova meta financeira global, em discussão nas COPs, para apoiar países em desenvolvimento na transição climática.
NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada)
Compromissos voluntários que cada país apresenta no âmbito do Acordo de Paris para reduzir emissões e se adaptar às mudanças climáticas.
Net Zero (Emissões Líquidas Zero)
Equilíbrio entre emissões e remoções de gases de efeito estufa, previsto globalmente para 2050.
OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica)
Entidade formada por oito países amazônicos para promover o desenvolvimento sustentável e a conservação da floresta.
Parte
Designação oficial para países ou blocos que são signatários da UNFCCC e participam das COPs.
Pacto de Letícia
Acordo firmado em 2019 entre países amazônicos para fortalecer a cooperação na proteção da floresta e no combate ao desmatamento.
Perdas e Danos
Expressão usada para designar impactos climáticos que não podem ser evitados, mesmo com mitigação e adaptação, como secas extremas e desaparecimento de ecossistemas.
Plano Clima
Estratégia brasileira de mitigação e adaptação, criada em 2008 e atualizada para a COP30, integrando programas de energia, agricultura e conservação ambiental.
Presidência da COP
País responsável por conduzir as negociações durante cada conferência, conciliando interesses e buscando consenso entre as Partes.
Protocolo de Kyoto
Acordo firmado em 1997 que estabeleceu metas de redução de emissões para países desenvolvidos. Foi substituído, em grande parte, pelo Acordo de Paris.
REDD+ (Redução por Emissão de Desmatamento e Degradação Florestal)
Mecanismo que recompensa financeiramente países que reduzam o desmatamento e promovam manejo florestal sustentável, gerando benefícios econômicos e climáticos.
Resiliência Climática
Capacidade de sistemas naturais e humanos de resistir e se recuperar de eventos climáticos extremos e transformações ambientais.
SbN (Soluções Baseadas na Natureza)
Ações que utilizam processos naturais — como restauração de ecossistemas e agricultura regenerativa — para enfrentar desafios ambientais e sociais, promovendo desenvolvimento sustentável e bem-estar.
Taxonomia Sustentável
Sistema que define quais atividades econômicas são ambientalmente sustentáveis. No Brasil, a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB) busca orientar investimentos para setores de baixo carbono e prevenir o greenwashing.
Transição Energética Justa
Transformação do modelo energético, substituindo combustíveis fósseis por fontes renováveis, de modo inclusivo e socialmente responsável.
UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima)
Estrutura internacional que sustenta as COPs e os acordos climáticos, orientando a cooperação global para a redução das emissões.