O deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, é alvo de denúncias de nepotismo após transformar seu gabinete na Câmara em um núcleo familiar. De acordo com levantamento, quatro parentes teriam sido contratados entre 2020 e 2024, resultando em mais de R$ 2,1 milhões pagos em salários.
O caso envolve sua companheira, uma cunhada e dois concunhados, todos com cargos comissionados e remunerações no topo da faixa parlamentar. A principal beneficiada foi Elizabeth Dias de Oliveira, companheira do deputado, que sozinha recebeu R$ 1,2 milhão desde que ingressou no gabinete, em abril de 2020.
Segundo documentos obtidos pela reportagem, o casal oficializou união estável em janeiro de 2022, o que configura vínculo de parentesco por afinidade, vedado pelo Supremo Tribunal Federal e pelas normas da própria Câmara dos Deputados.
A certidão de união estável, reconhecida em cartório, faz com que Elizabeth e Chrisóstomo se enquadrem nas restrições da Súmula 13 do STF, que proíbe a nomeação de cônjuges e familiares até o terceiro grau. A cunhada do deputado, Naara Star de Oliveira Souza Dias, também figurava na folha de pagamento desde julho de 2022, com rendimentos que chegaram a R$ 8,7 mil mensais.
Já a concunhada Gabriela Aparecida de Lima Oliveira, casada com o irmão de Elizabeth, teve aumento de salário superior a 570% em menos de um ano, passando de R$ 1,9 mil para R$ 13,4 mil. Somadas, as remunerações de Gabriela já ultrapassaram R$ 532 mil.
O namorado de Naara, Luy Ferreira Sobral, foi o último a entrar no gabinete, em agosto de 2024, recebendo mais de R$ 23 mil, incluindo auxílios. Questionado, Chrisóstomo afirmou inicialmente que não via irregularidades, alegando que todos os funcionários exerciam funções de confiança.
Após a repercussão, o parlamentar informou ter exonerado os quatro servidores. Em nota, declarou que o gabinete “atua de forma diligente e comprometida com as causas do povo de Rondônia” e que as denúncias seriam motivadas por “retaliações políticas”.
Chrisóstomo, de 66 anos, é natural de Tefé (AM), militar da reserva e figura de destaque no bolsonarismo. Foi eleito em 2018 e reeleito em 2022 pelo PL. Seu patrimônio declarado ao TSE saltou 180% entre as duas eleições, de R$ 302 mil para R$ 847 mil. Ele se apresenta como “defensor dos valores cristãos, da família e da pátria” e costuma endossar pautas conservadoras alinhadas à extrema direita.
Em julho, após uma operação da PF que mirou Jair Bolsonaro, o deputado exaltou as Forças Armadas e minimizou as ações de 1964, quando teve início a ditadura militar. “As Forças Armadas devem estar ao lado do povo e da democracia”, afirmou em discurso no Senado.