
A Polícia Federal identificou que Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como Índio do Lixão e apontado como tesoureiro do Comando Vermelho (CV), se reuniu com o secretário de Defesa do Consumidor do Rio de Janeiro, Gutemberg Fonseca, integrante do governo de Cláudio Castro (PL), para tratar de apoio político.
A informação consta no relatório final da Operação Zargun, de 27 de setembro, que investiga agentes públicos e políticos ligados ao tráfico internacional de armas e drogas, de acordo com a Folha de S.Paulo.
Segundo a PF, a reunião entre Índio e Gutemberg ocorreu em 13 de maio. Conversas extraídas do celular de Índio mostram que ele relatou o encontro ao ex-secretário Alessandro Pitombeira Carracena, que já comandou a Secretaria de Esporte e Lazer do Rio e foi subsecretário de Defesa do Consumidor.
No áudio, o suspeito afirmou que conversou sobre política e sobre como poderia ajudar o secretário, e que foi levado ao local “para ver como poderiam se ajudar politicamente”.
Em uma das mensagens, ele disse que Gutemberg poderia ligar “para perguntar quem era e se estava dentro do problema ou não”, o que os investigadores interpretaram como um pedido de “cobertura política”.
Carracena respondeu: “Já falei com eles, falei que você é firme e é importante pra ele ter ao lado”, o que, segundo a PF, indica apoio ao projeto político de Índio.
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PF vê tentativa de cooptar autoridades públicas
O relatório da operação afirma que os diálogos revelam a articulação política da facção para cooptar altas autoridades do Executivo estadual e usar “a máquina pública para blindar e promover seus interesses”.
A PF aponta ainda que, em 5 de junho, Índio enviou a Carracena um vídeo de Gutemberg em um evento da Enel, comentando: “Ficou forte ele com Enel, né?”. O ex-secretário respondeu: “Muito é por causa de você”, ao que Índio replicou: “Não posso ficar forçando ele a me ajudar se, no coração dele, não quer me ajudar. Ainda mais depois do que eu fiz.”
A PF não especificou qual teria sido o auxílio prestado. No dia seguinte, as páginas oficiais de Gutemberg e da secretaria publicaram registros do mesmo evento, destacando uma parceria institucional com a distribuidora de energia.
Tesoureiro do CV planejava carreira política
Preso na deflagração da Operação Zargun, Índio é apontado como o principal articulador financeiro do Comando Vermelho, com ligações com líderes do Complexo do Alemão. Segundo a polícia, ele ganhou o apelido “do Lixão” por chefiar o comércio de drogas na favela de mesmo nome, no município de Duque de Caxias.
De acordo com a PF, ele negociava armas e drogas, ocultava recursos e mantinha contatos com autoridades para favorecer a facção. O grupo planejava lançá-lo candidato a vereador em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Índio e Carracena foram presos durante a deflagração da Operação Zargun, no início de setembro. A PF indiciou o criminoso sob suspeita de promover, constituir, financiar ou integrar organização criminosa e de associação para o tráfico internacional de armas e drogas. Ele também havia sido preso em 2015.
Já Carracena, segundo a PF, atuava como braço político e jurídico da facção. Ele teria recebido dinheiro de membros do grupo para vazar informações sobre operações policiais e atender a interesses por meio de contatos adquiridos na vida pública.
Ele foi indiciado sob suspeita de promover, constituir, financiar ou integrar organização criminosa, violação de sigilo funcional (quando um funcionário público revela um segredo de seu cargo ou facilita sua revelação) e corrupção ativa (quando oferece ou promete vantagem indevida a um funcionário público).
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Defesa nega relação e diz que contatos foram casuais
A Secretaria de Defesa do Consumidor afirmou que Gutemberg desconhece o histórico de Índio e que qualquer eventual contato foi “absolutamente casual”, sem conhecimento de envolvimento ilícito. Disse ainda que o secretário “atua dentro da lei e trata apenas de pautas institucionais e republicanas”.
A Enel, por sua vez, informou que realiza reuniões frequentes com autoridades locais e que “não tem qualquer relação com Gabriel Dias de Oliveira”.
O advogado Rodrigo Roca, que defende Carracena, negou ilegalidades. “O diálogo entre o Dr. Carracena e o Índio, ao contrário da perversa narrativa acusatória, inseriu-se no contexto da busca legítima por apoio político”, afirmou.