
A Polícia Federal descobriu uma contabilidade paralela de propinas mantida pelo bispo Josivaldo Batista, da Igreja Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus, que o órgão aponta como operador financeiro do esquema de corrupção supostamente chefiado pelo prefeito bolsonarista afastado de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos). O bispo foi preso preventivamente nesta quinta-feira (6) na segunda fase da Operação Copia e Cola, que investiga desvios de recursos da área da Saúde.
De acordo com o Estadão, a investigação aponta que os agentes encontraram no celular de Josivaldo um arquivo de texto que funcionava como um verdadeiro livro-caixa clandestino das propinas. Manga foi afastado do cargo por 180 dias enquanto a PF segue com a investigação.
A “contabilidade paralela” listava as chamadas “entradas” e “saídas” de dinheiro, organizadas em períodos irregulares e escritas em linguagem cifrada. “Os lançamentos foram organizados por períodos de tempo variáveis, sem seguir um padrão fixo como semanal ou mensal”, detalhou a Polícia Federal.
As “entradas” representavam o pagamento de propinas de empresas contratadas pela prefeitura, com valores que variavam de R$ 30 mil a R$ 2,8 milhões. Já as “saídas” indicavam a distribuição desses recursos a secretários municipais e aliados políticos de Rodrigo Manga.
O arquivo foi modificado pela última vez poucas horas antes da operação da PF, o que, segundo os investigadores, reforça a hipótese de que o bispo tentou apagar rastros do esquema.
O documento não mencionava repasses diretos ao prefeito, mas a PF afirma que existia outra contabilidade, separada, para ocultar sua participação.
A Polícia Federal faz operação na manhã desta quinta-feira (10) em Sorocaba, interior de São Paulo, contra organização criminosa suspeita de desviar recursos públicos destinados à saúde. Policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão na casa do prefeito Rodrigo Manga… pic.twitter.com/mRR6ZADVds
— Folha de S.Paulo (@folha) April 10, 2025
“Os pagamentos que teriam sido feitos para Rodrigo Maganhato não constariam na contabilidade paralela de Josivaldo, mas sim no de sua esposa, Simone Rodrigues Frate de Souza, o que demonstraria uma ação coordenada, para ocultar, ao máximo, a prática delitiva por parte de Rodrigo Maganhato”, diz um trecho da decisão que autorizou as prisões.
Casado com Simone, que também foi presa, Josivaldo é cunhado do prefeito. Em abril, durante a primeira fase da operação, a Polícia Federal havia apreendido R$ 903 mil em espécie com o casal. Parte do dinheiro estava guardada em um envelope identificado com o nome “Prett”, que, segundo os investigadores, se refere a Fernando Francisco Prette, sócio da empresa Única Sorocaba Vigilância e Segurança Patrimonial, contratada pela prefeitura.
A análise das contas bancárias do bispo e da igreja revelou um volume expressivo de movimentações em dinheiro vivo. Segundo a PF, a instituição religiosa recebeu 958 depósitos em espécie que somaram R$ 1,7 milhão, enquanto as contas pessoais de Josivaldo movimentaram R$ 2,6 milhões em 2.221 depósitos no período investigado. As autoridades acreditam que parte dessas transações foi usada para lavar o dinheiro do esquema.
Um dos contratos apontados como fraudulentos envolvia a Igreja Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus e uma empresa de publicidade registrada em nome da primeira-dama, Sirlange Rodrigues Frate Maganhato. O documento, segundo os investigadores, teria servido para justificar formalmente transferências de recursos desviados da prefeitura.
A defesa do prefeito Rodrigo Manga nega as acusações e diz que o caso é fruto de perseguição política. “A investigação conduzida pela Polícia Federal de Sorocaba é completamente nula, porque foi iniciada de forma ilegal e conduzida por autoridade manifestamente incompetente. Além disso, é fruto de perseguição política, não havendo nada de concreto a relacionar o prefeito nesse inquérito policial”, afirmou a defesa em nota.