Bispo aliado de Rodrigo Manga tinha “contabilidade paralela”, diz PF

Atualizado em 8 de novembro de 2025 às 8:17
Rodrigo Manga, a pastora Simone Souza e o bispo Josivaldo Souza, líderes do Templo da Glória e Renovo de Deus. Foto: reprodução

A Polícia Federal descobriu uma contabilidade paralela de propinas mantida pelo bispo Josivaldo Batista, da Igreja Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus, que o órgão aponta como operador financeiro do esquema de corrupção supostamente chefiado pelo prefeito bolsonarista afastado de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos). O bispo foi preso preventivamente nesta quinta-feira (6) na segunda fase da Operação Copia e Cola, que investiga desvios de recursos da área da Saúde.

De acordo com o Estadão, a investigação aponta que os agentes encontraram no celular de Josivaldo um arquivo de texto que funcionava como um verdadeiro livro-caixa clandestino das propinas. Manga foi afastado do cargo por 180 dias enquanto a PF segue com a investigação.

A “contabilidade paralela” listava as chamadas “entradas” e “saídas” de dinheiro, organizadas em períodos irregulares e escritas em linguagem cifrada. “Os lançamentos foram organizados por períodos de tempo variáveis, sem seguir um padrão fixo como semanal ou mensal”, detalhou a Polícia Federal.

As “entradas” representavam o pagamento de propinas de empresas contratadas pela prefeitura, com valores que variavam de R$ 30 mil a R$ 2,8 milhões. Já as “saídas” indicavam a distribuição desses recursos a secretários municipais e aliados políticos de Rodrigo Manga.

O arquivo foi modificado pela última vez poucas horas antes da operação da PF, o que, segundo os investigadores, reforça a hipótese de que o bispo tentou apagar rastros do esquema.

O documento não mencionava repasses diretos ao prefeito, mas a PF afirma que existia outra contabilidade, separada, para ocultar sua participação.

“Os pagamentos que teriam sido feitos para Rodrigo Maganhato não constariam na contabilidade paralela de Josivaldo, mas sim no de sua esposa, Simone Rodrigues Frate de Souza, o que demonstraria uma ação coordenada, para ocultar, ao máximo, a prática delitiva por parte de Rodrigo Maganhato”, diz um trecho da decisão que autorizou as prisões.

Casado com Simone, que também foi presa, Josivaldo é cunhado do prefeito. Em abril, durante a primeira fase da operação, a Polícia Federal havia apreendido R$ 903 mil em espécie com o casal. Parte do dinheiro estava guardada em um envelope identificado com o nome “Prett”, que, segundo os investigadores, se refere a Fernando Francisco Prette, sócio da empresa Única Sorocaba Vigilância e Segurança Patrimonial, contratada pela prefeitura.

A análise das contas bancárias do bispo e da igreja revelou um volume expressivo de movimentações em dinheiro vivo. Segundo a PF, a instituição religiosa recebeu 958 depósitos em espécie que somaram R$ 1,7 milhão, enquanto as contas pessoais de Josivaldo movimentaram R$ 2,6 milhões em 2.221 depósitos no período investigado. As autoridades acreditam que parte dessas transações foi usada para lavar o dinheiro do esquema.

Um dos contratos apontados como fraudulentos envolvia a Igreja Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus e uma empresa de publicidade registrada em nome da primeira-dama, Sirlange Rodrigues Frate Maganhato. O documento, segundo os investigadores, teria servido para justificar formalmente transferências de recursos desviados da prefeitura.

A defesa do prefeito Rodrigo Manga nega as acusações e diz que o caso é fruto de perseguição política. “A investigação conduzida pela Polícia Federal de Sorocaba é completamente nula, porque foi iniciada de forma ilegal e conduzida por autoridade manifestamente incompetente. Além disso, é fruto de perseguição política, não havendo nada de concreto a relacionar o prefeito nesse inquérito policial”, afirmou a defesa em nota.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.