
A passagem do tornado que devastou o Centro-Sul do Paraná revela, de forma dolorosa, como tragédias climáticas encontram terreno fértil nas regiões mais vulneráveis. Em Rio Bonito do Iguaçu, onde cinco moradores morreram e 80% da cidade ficou destruída, a força dos ventos que chegaram a 250 km/h encontrou casas frágeis, ruas sem drenagem adequada e bairros que historicamente recebem pouco investimento público.
Quarenta quilômetros adiante, em Guarapuava, outro morador morreu quando o ciclone extratropical avançou pelo estado. No total, seis vidas foram perdidas e ao menos 600 pessoas receberam atendimento médico, num cenário de colapso estrutural que ultrapassa o impacto meteorológico.
A cena descrita por moradores é clara: pedaços de telhado espalhados, carros arremessados, centros culturais inteiros ao chão. Famílias que já viviam com orçamento apertado perderam móveis, documentos, produtos de trabalho e a própria noção de segurança. Para muitos, a reconstrução dependerá não só da ajuda emergencial, mas de meses de improviso, favores de parentes e longos caminhos burocráticos.
Enquanto isso, bairros centrais de cidades maiores enfrentaram apenas quedas de energia e galhos na rua. A mesma tempestade que arrasou casas de madeira provocou apenas transtornos pontuais em áreas com planejamento urbano sólido. O episódio reacende uma discussão antiga: por que comunidades periféricas continuam sendo empurradas para áreas com risco evidente, sem obras de contenção e sem rede de drenagem capaz de suportar eventos extremos.
O Simepar classificou o tornado como EF3, o mais forte já registrado pelo órgão em mais de duas décadas. Mesmo assim, o impacto não foi igual em todo o território. A fraqueza da infraestrutura molda o tamanho da tragédia. A resposta emergencial mobilizou bombeiros, equipes de resgate e voluntários. Mas o que falta é a política de prevenção contínua: moradia segura, urbanização digna, monitoramento eficaz e obras que resistam ao clima de 2025, não ao de 1980.
O país não controla o vento, mas controla onde e como as pessoas vivem. No Paraná, o tornado apenas revelou mais uma vez quem paga o maior preço.
Estou em choque com as imagens aéreas de Rio Bonito do Iguaçu no Paraná depois da passagem do tornado. Destruiu cerca de 80% da cidade.
Meu Deus, que tragédia.
— Mariana Oliveira (@marioliveirain) November 8, 2025