Da tilápia aos javalis: o impasse que expõe o avanço das espécies invasoras no país

Atualizado em 8 de novembro de 2025 às 14:22
Peixe tilápia. Foto: Reprodução

A inclusão da tilápia na Lista Nacional de Espécies Exóticas Invasoras da Conabio provocou tensão entre produtores de pescado e reabriu um debate que envolve também javalis, capivaras e outras espécies fora de controle no país. O Ministério do Meio Ambiente afirma que o cultivo da tilápia segue autorizado pelo Ibama e que a classificação não significa banimento. A lista funciona como base técnica para políticas ambientais, já que a tilápia, originária da África, tem aparecido em rios e lagoas onde não deveria estar.

Pesquisadores destacam que o peixe exibe traços que favorecem desequilíbrios ecológicos, como territorialismo, dieta variada e capacidade de alterar a dinâmica dos lagos. Estudos da UFPR mostram escapes sucessivos de criadouros, inclusive em áreas preservadas e até no mar. A situação lembra a pressão que javalis e capivaras exercem em várias regiões: populações que se expandem, alcançam áreas urbanas e exigem respostas urgentes do poder público. Eventos climáticos extremos tendem a agravar essas fugas e acelerar a propagação de espécies invasoras.

O setor produtivo se preocupa com impactos econômicos. Produtores temem novas exigências ambientais que encarecem licenças e prolongam o início das operações. A Abipesca alerta para possíveis barreiras comerciais e insegurança jurídica, já que o país ainda não possui regras específicas para produção de espécies consideradas invasoras. Ao mesmo tempo, Agricultura e Pesca pressionam dentro do governo para retirar a tilápia da lista, alegando que a medida afeta um setor já marcado por licenças lentas e custos altos.

Mesmo com técnicas de contenção, como reversão sexual e barreiras físicas, especialistas afirmam que o risco de fuga não desaparece. Cada escape representa desgaste para o produtor e impacto para o ambiente. A própria lista da Conabio, construída a partir de mais de 200 estudos e duas consultas públicas, inclui casos emblemáticos como javalis, capivaras e a abelha africanizada. O impasse continua, enquanto governo, pesquisadores e produtores tentam equilibrar preservação ambiental, manejo de fauna e continuidade da cadeia do pescado.