
O tornado que devastou cidades da região Centro-Sul do Paraná, com ventos acima de 250 km/h e classificação EF3, colocou ainda mais pressão sobre a COP30, que começa em Belém na segunda (10). Especialistas afirmam que o Brasil, como país-sede e liderança nas negociações, terá de responder a uma sequência de eventos extremos que se multiplicam no planeta.
Carlos Rittl, diretor global de políticas públicas da Wildlife Conservation Society, cita três episódios recentes que mostram a gravidade da situação: o furacão que atingiu a Jamaica, o tufão que deixou mais de 180 mortos nas Filipinas e outro que atingiu o Vietnã.
Para ele, a COP30 terá de lidar com “uma era de extremos”, exigindo cortes mais rápidos nas emissões globais para manter a meta de limitar o aquecimento a 1,5°C, como prevê o Acordo de Paris.
O DCM realizará o Seminário Pós-COP: O Brasil diante das transformações globais. Será no dia 24 de novembro, três dias após o encerramento da conferência climática em Belém.
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A falta de investimentos em adaptação — obras, planejamento urbano e sistemas de alerta para enfrentar desastres — segue como uma das principais críticas de ambientalistas. “As cidades precisam se preparar para lidar com essa nova realidade. O mapeamento dos riscos já existe, e isso exige recursos financeiros”, afirma Everaldo Barreiros, professor de meteorologia da UFPA. Ele lembra que a conferência discutirá justamente o financiamento para países mais vulneráveis.
Rittl reforça que os investimentos internacionais precisam ser acompanhados de ações locais e metodologias próprias para cada região. A pauta da COP inclui a proposta de triplicar os recursos destinados à adaptação em países em desenvolvimento.
O tornado no Paraná ilustra esse desafio. Segundo o geógrafo Daniel Henrique Cândido, doutor pela Unicamp e autor da principal catalogação de tornados no Brasil (1990–2011), o fenômeno pode estar entre os 10 mais fortes já registrados no país. Ele compara o episódio ao tornado de Almirante Tamandaré (PR), em 1992, também de intensidade EF3.
Cândido explica que o Brasil ocupa a segunda região com maior risco de tornados no mundo, atrás apenas do corredor norte-americano, por características geográficas únicas: planícies extensas na América do Sul, bloqueio dos Andes a oeste e o papel da Serra do Mar no escoamento das massas de ar. Isso favorece tempestades severas e movimentos convectivos capazes de gerar tornados, microexplosões e ventos destrutivos.
Com base nos danos observados no Paraná — destruição de casas de alvenaria, rompimento de torres de energia e veículos arrancados do solo — o pesquisador afirma que o evento se encaixaria no nível 6 da Escala Brasileira de Ventos (Ebrav), proposta em sua tese, que vai de 0 a 7.
A gravidade dos desastres no Brasil, porém, está ligada não apenas à força dos ventos, mas também ao padrão das construções, à vulnerabilidade urbana e à baixa cultura de prevenção. “Aqui, as moradias são mais pesadas. Quando caem, o impacto é maior. E as áreas pobres sofrem mais”, diz Cândido. Ele afirma que o país ainda carece de uma rede de radares mais densa e de acesso facilitado a informações meteorológicas, o que dificulta preparar a população.
O caso do Paraná aumenta a cobrança para que a COP30 avance em compromissos concretos de mitigação e adaptação, pressionando o Brasil — anfitrião e referência climática — a liderar uma resposta global compatível com o tamanho dos riscos atuais.