Sakamoto: Tornado mata no PR durante a COP e lembra ao mundo seu fracasso climático

Atualizado em 9 de novembro de 2025 às 9:53
90% das edificações da cidade de Rio Bonito do Iguaçu (PR) Foram afetadas. Foto: Ari Dias/Agência de Notícias do Paraná

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Enquanto a cúpula de líderes mundiais, realizada em Belém antes do início da COP 30, apontou avanços tímidos para a redução do impacto das mudanças climáticas, um surpreendente tornado deixava um rastro de terror no Paraná. Pela contagem, até agora, foram seis mortos e mais de 430 feridos. A destruição de Rio Bonito do Iguaçu lembra ao Brasil e ao mundo o nosso novo normal com o aquecimento global.

Não, isto não é usar a tragédia para falar de política ou de ideologia — o silêncio é que seria político e ideológico. Isto é tentar lembrar que eventos climáticos extremos como esse serão cada vez mais frequentes com o aumento da temperatura global.
Centenas de mortos com as enchentes no Rio Grande do Sul, mortes com as secas na Amazônia, mortes com os incêndios no Pantanal, mortes com os deslizamentos de terra no Rio de Janeiro, mortes com o ar irrespirável da fumaça de queimadas em São Paulo, mortes com o ciclone extratropical que se formou na região Sul.

Qualquer alce que caiu em um buraco na Sibéria após o colapso do permafrost local, qualquer urso polar deprimido por estar à deriva em uma placa de gelo que se soltou no Ártico, qualquer cavalo caramelo ilhado em um telhado nas enchentes gaúchas ou ainda qualquer tamanduá-bandeira cercado pelas chamas de uma queimada descontrolada na Amazônia é capaz de explicar que já ajustamos o termostato do planeta para a posição de extinção. E que, neste momento, diante da falta de coragem dos governos para para largar mão de uma economia global baseada no petróleo, estamos nos esforçando apenas para que ela ocorra mais rápido.

As mudanças climáticas em andamento na Terra já são irreversíveis. Nas próximas décadas, teremos milhões de refugiados ambientais por conta da subida no nível dos oceanos e pelos eventos climáticos extremos; fome em grande escala devido à redução e desertificação de áreas de produção e à perda da capacidade pesqueira; aumento na quantidade de pessoas doentes e subnutridas, além de conflitos e guerras em busca de água e de terra para plantar. Os sobreviventes terão que adaptar sua vida para conviver com um ambiente mais hostil. Os ricos serão terão mais chances, mas não vão passar ilesos. Afinal, o céu cobre a todos.
O que não significa que não possamos evitar uma catástrofe ainda maior causadas pelas as mudanças climáticas, reduzindo desmatamento, queimadas, emissão de poluentes, e não podemos adaptar cidades e o campo para esse novo normal.

O mundo tentava manter o aumento da temperatura global em 1,5 graus Celsius até 2100, o que vai ser impossível dado o nosso fracasso, nas palavras do próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, em Belém, nesta semana. Podemos chegar a 3, 4 ou 5 graus a mais. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com um limite de aumento de 2 graus Celsius na temperatura global, o nível do mar vai subir quase meio metro. Adeus, cidades costeiras.

 

Mapa climático mostra o ciclone extratropical que atinge o Sul e Sudeste do Brasil. Foto: Reprodução/Climatempo

Fazer com que pessoas acreditem que tudo está mudando sem que sintam isso na pele é difícil. Por isso, que esses terríveis eventos extremos têm a capacidade de mobilizar por mudanças. Talvez o esperado investimento das nações ricas para a redução de emissões e a mudança no comportamento dos cidadãos, bem como o desenvolvimento de tecnologias mais baratas para sequestrar carbono da atmosfera, virão quando houver pânico diante dos tais eventos.

O mundo, ainda em choque com os horrores da Segunda Guerra Mundial, proclamou, três anos após o fim do conflito, a Declaração Universal dos Direitos Humanos – nosso documento mais importante. O Brasil cansado de autoritarismo promulgou, três anos após o final da ditadura, a Constituição Federal de 1988, seu documento mais importante. Infelizmente, é depois de andar pelo vale da sombra que estamos mais abertos para olhar o futuro e desejar que o sofrimento igual nunca mais se repita.

A questão não é mais “evitar” mudanças climáticas e sim “reduzir a tragédia que já começou”. O mundo precisa entender que já está no fundo poço. A questão é que, no fundo, há um alçapão.

Não acreditem em quem fala que estamos em contagem regressiva: já adentramos uma nova era de extinção em massa de uma série de espécies. Talvez menos a nossa. Pois, ao final, os ricos comprarão sua segurança e herdarão a Terra, desta vez mais árida e violenta. Sem Tina Turner (para os mais velhos), nem Anya Taylor-Joy e Charlize Theron, num plágio de Mad Max — que virá não como tragédia, mas como farsa vagabunda.

Seminário Pós-COP:  O Brasil diante das transformações globais 

24 de novembro de 2025  (segunda-feira); sessões às 10:00-12:30 e 19:00-21:30 

FESPSP – Rua General Jardim, Vila Buarque, São Paulo/SP 

Garanta sua vaga: https://poscop.org/ 

Sessão da Manhã (10:00-12:30) 

Aldo Fornazieri (Professor da FESPSP, Cientista Político) – abertura da sessão 

Ricardo Abramovay (Professor Sênior, Instituto de Energia e Ambiente, USP) 

Gabriel Ferraz Aidar (Superintendente de Planejamento e Pesquisa Econômica, BNDES) 

Alexandre Ramos Coelho (Coordenador do MBA em Geopolítica da Transição Energética, FESPSP)

Sessão da Noite 19:00-21:30

Painelistas confirmados:

Aldo Fornazieri (Professor da FESPSP, Cientista Político) – abertura da sessão

Paulo Teixeira (Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar)  

Luciana Aparecida da Costa (Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática, BNDES)

Juliano Medeiros (Historiador e Professor Convidado da FESPSP) 

Uma parceria DCM + FESPSP para debater o futuro climático do Brasil com rigor acadêmico e compromisso social. https://poscop.org/