Metade dos eleitores acredita em facada fake de Bolsonaro e fraude nas eleições, diz pesquisa

Atualizado em 9 de novembro de 2025 às 10:40
Jair Bolsonaro (PL) durante episódio da facada
Episódio da facada protagonizado por Jair Bolsonaro (PL) – Reprodução

Pesquisa nacional intitulada “A Cara da Democracia” revelou que teorias da conspiração ligadas à política continuam a influenciar parte significativa da população brasileira. O levantamento ouviu 2.510 pessoas entre os dias 17 e 26 de outubro e foi conduzido por pesquisadores da UFMG, Unicamp, UnB, Uerj e Enap, com apoio do CNPq e da Fapemig. Com informações do jornal O Globo.

Os dados mostram que crenças, como a de que o ataque a faca sofrido por Jair Bolsonaro (PL) em 2018 foi uma encenação ou de que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 foi fraudada, convencem entre metade e mais da metade dos eleitores identificados com esquerda e direita, respectivamente.

De acordo com o levantamento, 32% dos brasileiros acreditam que a facada em Bolsonaro foi planejada, índice que sobe para 53,3% entre os que se identificam como de esquerda.

Já a alegação de que Lula venceu por meio de fraude é considerada verdadeira por 34,2% da população, chegando a 52,2% entre eleitores de direita. Outro dado mostra que 57,7% dos simpatizantes da direita creem na existência de um “plano global da esquerda para tomar o poder”.

Os pesquisadores identificaram que o padrão de crença em desinformação se mantém entre grupos ideológicos opostos, mas varia conforme o tema. A única teoria com baixa adesão geral é a de que o ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR) seria “infiltrado dos EUA”, aceita por 13,7% dos entrevistados. Entre eleitores de esquerda e direita, esse número fica em 17,4% e 14,1%, respectivamente.

Os autores do estudo apontam que a propagação dessas teorias ocorre dentro de círculos ideológicos restritos. Segundo Oswaldo Amaral, diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, as bolhas de informação reforçam crenças específicas.

“Mesmo considerando escolaridade, a ideologia é decisiva para explicar a adesão a essas teorias”, afirmou. Amaral destacou ainda que eleitores de direita tendem a se informar mais pelas redes sociais, o que amplia a exposição a conteúdos falsos.

O levantamento também mostrou um aumento expressivo na polarização ideológica desde 2018. O percentual dos que se identificam como “extrema direita” subiu de 9% para 24%, e o dos que se declaram “extrema esquerda” passou de 6% para 15%. O grupo que se vê no centro manteve-se praticamente estável, indicando maior concentração nos polos.

Além das crenças políticas, a pesquisa mediu a posição dos brasileiros sobre temas morais. A maioria se mostrou contrária à legalização do aborto (69,6%) e à descriminalização das drogas (65,4%). Também houve apoio à redução da maioridade penal (64,5%), ao ensino religioso (80,3%) e à militarização de escolas (55,6%).

Já em questões como casamento homoafetivo e uso de banheiros por pessoas trans, a população se dividiu. Para o cientista político Lúcio Rennó, da UnB, os dados apontam para um predomínio de valores conservadores e punitivistas na sociedade.

Jessica Alexandrino
Jessica Alexandrino é jornalista e trabalha no DCM desde 2022. Sempre gostou muito de escrever e decidiu que profissão queria seguir antes mesmo de ingressar no Ensino Médio. Tem passagens por outros portais de notícias e emissoras de TV, mas nas horas vagas gosta de viajar, assistir novelas e jogar tênis.