
O tema da redação do Enem desse ano foi assim formulado:
‘Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira’
A palavra acerca deve ter sido infiltrada no tema por algum robô parnasiano da inteligência artificial do século 19.
Porque ninguém mais pensa acerca de coisa alguma. Nem escreve acerca do Enem, nem reflete acerca do golpe que não deu certo. E muito menos acerca da prisão de Bolsonaro na Papuda.
Os formuladores do tema envelheceram tanto que ainda usam a palavra acerca, que jovem algum escreveu uma vez na vida. Ninguém diz que está pensando acerca de alguma coisa. Só alguns profissionais de áreas específicas.
O assunto é bom. Mas ficou parecendo, como foi apresentado, tema enredo de escola de samba. Algumas palavras envelhecem e acerca é uma dessas.
Depois dessa do Enem, precisamos conversar acerca de coisas antigas que não ajudam em nada na interação dos pensadores, formuladores e de todos os servidores da educação com a geração TikTok.
É assim que eles pretendem compreender as gerações que há muito não falam e não pensam como alguns educadores se expressam?
Por que envelhecer a escrita e passar aos jovens essa ideia de envelhecimento da linguagem ‘formal’ com uma palavra em desuso?
Eu tenho certeza de que nunca usei a palavra acerca em nenhum texto que escrevi em meio século de vida como jornalista. Por isso considerem, se forem fazer algum comentário acerca do que escrevi agora, que sou bem antigo.
(Meu amigo Carlos Frederico Caccia alerta que poderia ter sido pior. O tema poderia ser: ‘Perspectivas no que tange ao envelhecimento na sociedade brasileira’.)

NORRIS
Manchete do Estadão que só ajuda os que tratam o jornalismo como coisa cada vez mais irrelevante:
“Norris vence GP de São Paulo, Verstappen sai dos boxes para o pódio; Bortoleto bate na 1ª volta”
A quantos interessa saber, em manchete, que o Norris venceu o GP, um dia antes da abertura da conferência mundial para salvar a Terra?