Neymar está levando o que restou do Santos para seu buraco

Atualizado em 10 de novembro de 2025 às 11:10
Neymar reclamando com o árbitro de Flamengo x Santos. Foto: reprodução

Aos 33 anos, Neymar conseguiu o impensável: transformar um retorno épico em um remake desastroso. A atuação (e a atitude) na derrota do Santos para o Flamengo por 3 a 2, neste domingo (9), no Maracanã, foi o resumo cruel de uma carreira que estacionou no tempo. O craque que prometia redenção mostrou que, no fundo, o menino rebelde de 2010 ainda vive ali — só com menos velocidade, menos brilho e um ego ainda mais inflamado.

O Santos perdia por 3 a 0, o time cambaleava, e o capitão, o camisa 10, foi chamado para sair. Neymar não aceitou bem. Deixou o campo se arrastando, contestou o treinador e, em vez de apoiar os companheiros no banco, foi direto ao vestiário. O detalhe mais irônico? Sem ele, o Santos reagiu e fez dois gols. Enquanto o craque sumia nos corredores do Maracanã, o time mostrava que ainda havia um mínimo de vida.

É o tipo de comportamento que seria inaceitável em qualquer jogador — e ainda mais em alguém que se vê como líder. Mas o problema é que Neymar parou de evoluir como atleta faz tempo. As qualidades rarearam, os defeitos envelheceram bem. Perdeu explosão, ritmo e fome competitiva. Manteve o individualismo, o destempero e a incapacidade de se responsabilizar. O mesmo que afrontou Dorival Júnior em 2010 agora discute substituição como se ainda tivesse crédito para isso.

Em 86 minutos contra o Flamengo, mostrou lampejos de talento e a velha capacidade técnica. Só que o brilho durou menos do que suas reclamações — inclusive o amarelo de praxe por protestar contra a arbitragem. Nos 14 minutos sem ele, o Santos jogou, de fato, futebol. É simbólico.

Aos poucos, o sonho da volta se transforma em pesadelo. Neymar disputou 15 dos 32 jogos do Brasileirão — oito completos —, marcou três gols e colecionou sete amarelos e um vermelho. Pior: seu retorno, que deveria resgatar o orgulho santista, hoje parece arrastar o clube para o fundo da tabela. O Santos segue ameaçado de rebaixamento, e o craque, de irrelevância.

Enquanto isso, Carlo Ancelotti observa de longe — e, ao que tudo indica, sem saudades. O técnico da Seleção Brasileira já deixou claro: quer jogadores “fisicamente em nível top” para a Copa do Mundo. A imprensa espanhola cravou o óbvio — Neymar está cada vez mais longe do Mundial.

O camisa 10 até tenta preencher o vazio com provocações na Kings League e postagens no Instagram. Mas a verdade é dura: o futebol ficou pequeno para o personagem. A promessa de “voltar a ser o Neymar” virou um retrato melancólico de quem envelheceu sem amadurecer. No fim, o menino de 2010 continua ali — só que agora, cansado, contestado e com menos dribles para disfarçar as próprias falhas.

Luan Araújo
Jornalista formado em 2012, morador da periferia da Zona Leste de São Paulo, sambista e corintiano.