“Lucro do petróleo deve financiar transição energética”, diz Marina Silva

Atualizado em 10 de novembro de 2025 às 12:55
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Foto: Sergio Lima/AFP

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, voltou a defender a necessidade de uma transição energética justa e planejada, reconhecendo que o Brasil enfrenta “desafios e contradições” ao buscar reduzir a dependência dos combustíveis fósseis sem provocar um colapso energético. Em entrevista ao Globo, durante a abertura da COP30, em Belém, Marina afirmou que é preciso “usar parte do lucro do petróleo para investir na transição energética”, destacando que o país deve transformar a Petrobras em uma empresa voltada à produção de energia limpa.

Questionada sobre o aval do governo à exploração de petróleo na Margem Equatorial, a ministra disse que a decisão deve ser vista dentro do contexto global. “Você dificilmente vai encontrar um país que não esteja vivendo desafios e contradições na transição energética. A França investiu muito em energia nuclear, e 60% de sua matriz energética é fóssil. A Europa passou a considerar o gás um combustível de transição”, afirmou.

Para Marina, o importante é que o Brasil use os recursos gerados pelo petróleo como instrumento de transformação. “Foi importante o presidente Lula dizer, na cúpula de líderes, que precisamos acabar com a dependência dos combustíveis fósseis. Não basta querer sair da dependência, temos que criar as bases para isso. É preciso usar parte do lucro do petróleo para investir em hidrogênio verde e energia eólica e solar. O Brasil está disposto a fazer isso pela justiça climática”, disse.

A ministra destacou que o país tem vantagem comparativa no processo global de transição. “O Brasil é o país com maior vantagem comparativa, por já ter matriz energética 45% limpa e matriz elétrica 90% limpa. O presidente tem dito que a Petrobras precisa deixar de ser uma empresa de exploração de petróleo e se transformar urgentemente numa empresa de produção de energia”, afirmou.

Marina reforçou que abandonar os combustíveis fósseis “por decreto” é inviável e poderia causar desequilíbrios severos na economia mundial. “Não é possível abandonar combustíveis fósseis por decreto, porque haveria um colapso energético global”, disse, ressaltando que o país deve liderar o esforço de diversificação e inovação energética.

O presidente Lula ao lado de líderes que participam da COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Ao mesmo tempo, a ministra criticou duramente a aprovação no Senado de novos incentivos para usinas termelétricas movidas a carvão mineral, classificando a medida como um retrocesso.

“Foi um sinal na contramão dos esforços que precisam ser feitos. Todo o debate global é de acabar com os subsídios ineficientes à energia fóssil. Nem posso dizer que a votação foi açodada, porque ela só durou seis minutos. É um absurdo que algo com essa complexidade seja votado em seis minutos, às vésperas da realização do maior evento para o enfrentamento da mudança do clima”, afirmou.

Marina também fez críticas às mudanças recentes nas regras de licenciamento ambiental incluídas na mesma medida provisória. Segundo ela, o texto favorece empreendimentos de alto impacto sem análise técnica adequada.

“O que foi proposto é que a licença não precisará nem passar pelo Conselho de Governo. O projeto já será considerado estratégico quando se tratar de hidrelétrica ou reservatório. Isso tem endereço: o hidrograma de Belo Monte, as grandes barragens de rejeitos em Minas Gerais. São interesses que vão na contramão da sociedade e que põem vidas em risco”, alertou.

Para a ministra, a COP30 é uma oportunidade de consolidar um “mapa do caminho” global para a transição energética e o fim da dependência do petróleo. “Precisamos criar um mapa para chegar ao fim do desmatamento e do uso de combustíveis fósseis. É difícil? É. Tem posições contrárias? Tem. Mas se em Dubai fomos capazes de aprovar as metas, por que não aprovar agora um mapa do caminho?”, questionou.

Marina concluiu dizendo que o sucesso da conferência depende da capacidade dos países de assumir compromissos concretos e cooperativos. “Precisamos ajudar o mundo a atacar, de forma justa, as causas e os efeitos das mudanças climáticas. Atacar as causas significa sair da dependência do uso de combustível fóssil”, afirmou.

Seminário Pós-COP:  O Brasil diante das transformações globais 

24 de novembro de 2025  (segunda-feira); sessões às 10:00-12:30 e 19:00-21:30 

FESPSP – Rua General Jardim, Vila Buarque, São Paulo/SP 

Garanta sua vaga: https://poscop.org/ 

Sessão da Manhã (10:00-12:30) 

Aldo Fornazieri (Professor da FESPSP, Cientista Político) – abertura da sessão 

Ricardo Abramovay (Professor Sênior, Instituto de Energia e Ambiente, USP) 

Gabriel Ferraz Aidar (Superintendente de Planejamento e Pesquisa Econômica, BNDES) 

Alexandre Ramos Coelho (Coordenador do MBA em Geopolítica da Transição Energética, FESPSP)

Sessão da Noite 19:00-21:30

Painelistas confirmados:

Aldo Fornazieri (Professor da FESPSP, Cientista Político) – abertura da sessão

Paulo Teixeira (Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar)  

Luciana Aparecida da Costa (Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática, BNDES)

Juliano Medeiros (Historiador e Professor Convidado da FESPSP) 

Uma parceria DCM + FESPSP para debater o futuro climático do Brasil com rigor acadêmico e compromisso social. https://poscop.org/ 

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.