Informação privilegiada? Aliado de Ciro Nogueira foi exonerado 2 dias antes de ação contra o PCC

Atualizado em 11 de novembro de 2025 às 8:17
Victor Linhares de Paiva, ex-assessor e aliado político de Ciro Nogueira. Foto: reprodução

A exoneração do secretário municipal de Articulação Institucional de Teresina, Victor Linhares de Paiva, dois dias antes da deflagração da Operação Carbono Oculto 86, levantou suspeitas dentro da Polícia Civil do Piauí de que ele possa ter recebido informações privilegiadas sobre a investigação. A operação, deflagrada na quarta-feira (5), investiga um esquema de lavagem de dinheiro e fraudes financeiras ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), que teria movimentado cerca de R$ 5 bilhões por meio de fintechs e empresas de fachada.

Ligado politicamente ao senador Ciro Nogueira (PP-PI), Victor Linhares foi exonerado do cargo na segunda-feira (3), em decisão assinada pelo prefeito de Teresina, Silvio Mendes (União Brasil), um dos principais aliados de Ciro no estado.

A Polícia Civil do estado governado por Rafael Fonteles (PT), instaurou um inquérito para apurar se houve vazamento de informações da operação. Em nota, a assessoria da prefeitura afirmou que a mudança “foi técnica e política” e já estava programada há meses. O deputado federal Júlio Arcoverde (PP) assumiu a pasta.

A suspeita de vazamento aumentou após a polícia constatar que outros dois alvos da operação, os empresários Haran Santhiago Girão Sampaio e Danillo Coelho de Sousa, viajaram para São Paulo e Brasília, respectivamente, na véspera da deflagração da operação.

Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os investigadores encontraram caixas de relógio vazias nas residências dos investigados, indicando que objetos de valor podem ter sido retirados e escondidos às pressas.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Piauí, o esquema desarticulado na Operação Carbono Oculto 86 utilizava uma rede sofisticada de empresas de fachada, fundos de investimento e fintechs para lavar dinheiro proveniente de atividades ilícitas. Parte das movimentações passava pelo BK Bank, uma das instituições financeiras investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público de São Paulo.

Haran Santhiago Girão Sampaio (de óculos) e Victor Linhares. Foto: Reprodução

De acordo com a apuração da Polícia Civil, Victor Linhares teria recebido R$ 230 mil de Haran Sampaio, antigo proprietário da rede de postos HD, apontada como o centro do esquema no estado. O pagamento foi feito por meio de uma conta do ex-secretário no BK Bank. Por essa razão, ele deve ser convocado a depor nos próximos dias. Até o momento, Linhares não foi encontrado em sua residência e não respondeu aos contatos da imprensa.

As relações de Victor Linhares com o senador Ciro Nogueira também levantam questionamentos. Linhares foi assessor do senador entre 2018 e 2019 e trabalhou na liderança do Progressistas no Senado em 2020. Além disso, Ciro é padrinho de uma das filhas do ex-secretário. O senador não se pronunciou sobre o caso até a publicação desta reportagem.

A revista piauí revelou em julho que Victor Linhares recebeu R$ 625 mil do empresário Fernando Oliveira Lima, conhecido como Fernandim OIG, ligado ao setor de apostas online e também próximo de Ciro Nogueira.

Entre dezembro de 2023 e setembro de 2024, Linhares transferiu R$ 35 mil para a conta pessoal do senador. Questionado à época, Ciro afirmou que o valor era o reembolso de uma reserva de hotel em Capri, na Itália, e que os R$ 625 mil seriam referentes à venda de um relógio de luxo entre o empresário e o ex-assessor.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.