Exportações de cafés especiais brasileiros aos EUA caem 67% após tarifaço de Trump

Atualizado em 11 de novembro de 2025 às 11:15
Processamento de café. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos brasileiros provocou uma queda de 67% nas exportações de cafés especiais do Brasil para o mercado norte-americano, segundo dados da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). Com informações da Folha de S.Paulo.

A sobretaxa de 50% sobre os embarques brasileiros foi anunciada em julho e passou a valer no mês seguinte. Desde então, o volume total de exportações para os Estados Unidos caiu drasticamente — de uma média mensal de 150 mil sacas para cerca de 50 mil.

Os Estados Unidos, que tradicionalmente compram cerca de 2 milhões das 10 milhões de sacas de cafés finos exportadas anualmente pelo Brasil, sentiram forte retração nas importações. Em agosto, as vendas gerais do país caíram 16,5%, e, em setembro, a queda chegou a 20,3%.

Os cafés especiais brasileiros, considerados os mais valorizados do mercado, chegam a ultrapassar R$ 3 mil por saca de 60 quilos, segundo produtores que participaram da Semana Internacional do Café (SIC), realizada recentemente em Belo Horizonte.

“O impacto foi dramático, porque basicamente a gente está falando de uma redução de 67% dos embarques de cafés de mais alto valor agregado e que são duramente afetados pela tarifa. E aí, qual é a expectativa dos importadores? Eles vêm recebendo sinais de que a tarifa tem de se resolver. Então, o que acontece? Eles atrasam os embarques e vêm consumindo os estoques”, afirmou Vinícius Estrela, diretor-executivo da BSCA.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reprodução

Risco de perda de mercado e concorrência internacional

Estrela considera o momento “muito delicado”, já que o café é um produto de janela curta de comercialização, o que torna as negociações mais sensíveis. Ele alerta que, se o impasse persistir, o Brasil pode perder espaço no mercado norte-americano e abrir brecha para concorrentes como Colômbia, Panamá, Etiópia, Quênia e Indonésia.

“Se o acordo tardar e não acontecer neste ano, possivelmente [o café] tenha perdido uma parcela importante do mercado americano e dado a chance de o consumidor americano testar e eventualmente se adaptar a outros cafés. Foi uma luta do Brasil, da BSCA, por mais de 30 anos para mostrar que o Brasil não era só um café de base”, afirmou o executivo.

Estratégias para contornar o tarifaço

Diante do prejuízo, empresas brasileiras tentam reduzir perdas por meio de acordos diretos com compradores americanos. A Três Corações, principal player do setor, ajustou preços e margens para manter as exportações.

“Nós exportamos um pouco de café para a costa leste americana, a gente baixou nosso preço, o distribuidor lá baixou um pouco a margem dele e subiu um pouco o preço. Foi uma equação de três mãos aí, e continuamos exportando […] A gente fez um arranjo aí, mas não interrompemos nada de negócios”, afirmou Pedro Lima, presidente da empresa.

O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio da Silva, defende que a revisão das tarifas seja tratada de forma separada das negociações comerciais envolvendo outros produtos brasileiros.

“Ela tem que ser discutida separadamente, por vários motivos. O primeiro é porque, no café, não existe, nem por parte dos Estados Unidos nem por parte do Brasil, algum óbice. Segundo, se o Brasil começar com algum produto, ele pelo menos mostra boa vontade. E os Estados Unidos também mostram boa vontade. Dizem: ok, começamos a negociar”, afirmou.