Gestão Derrite na Segurança de SP combina alta letalidade, ações do PCC e aumento de crimes como estupro 

Atualizado em 12 de novembro de 2025 às 10:47
Guilherme Derrite (PL-SP), que estava licenciado do cargo por ser o Secretário de Segurança Pública de São Paulo. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Em meio à ofensiva da oposição pela aprovação do projeto que equipara facções criminosas a organizações terroristas, o deputado Guilherme Derrite (PP-SP), relator da proposta, tem feito um verdadeiro “beija-mão” no Congresso. A passagem dele pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo ficou marcada por um paradoxo: enquanto o governo estadual exibe a queda de homicídios como prova de eficiência, a violência policial atingiu recordes e a criminalidade se sofisticou em áreas de alto poder aquisitivo.

Em 2022, último ano da gestão João Doria/Rodrigo Garcia, 421 pessoas morreram em decorrência de ações policiais. Com Derrite no comando, o número subiu para 504 em 2023 e 813 em 2024, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. As operações Escudo e Verão, ambas no litoral paulista, concentram boa parte dessas mortes e foram denunciadas por uso excessivo da força e execuções sumárias.

A escalada da letalidade foi acompanhada por casos de brutalidade amplamente divulgados, como a morte do menino Ryan, de 4 anos, durante perseguição em Santos, e o vídeo em que um policial empurra um motoboy de uma ponte, sem resistência à abordagem. Para Carolina Ricardo, diretora do Instituto Sou da Paz, essas ações simbolizam uma gestão “reativa e emocional, sem base técnica”.

Apesar do discurso oficial de que os “crimes violentos” caíram 11,4% entre 2022 e 2024, o detalhamento dos dados revela avanço de outras modalidades de violência. As tentativas de homicídio cresceram 2,1%, as lesões corporais dolosas subiram 15,9% e os estupros aumentaram 10,1%. Os estelionatos tiveram alta de 31,1%, impulsionados pelos golpes digitais, enquanto os furtos e roubos recuaram apenas de forma marginal — queda de 1,4% e 20,8%, respectivamente.

Ao mesmo tempo, a criminalidade voltou com força às regiões mais ricas da capital. Dados da SSP mostram que o bairro de Perdizes registrou 3.847 furtos em 2023, o maior número em duas décadas, um salto de 11% em relação a 2022. Em Pinheiros, os boletins de ocorrência de violência cresceram 4% no mesmo período. No Itaim Bibi, foram 1.511 assaltos em 2024, uma média de um a cada seis horas.

Derrite e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Foto: reprodução

Os casos de arrastões em condomínios de luxo também voltaram a preocupar. Em maio de 2025, um grupo armado invadiu um prédio no Morumbi e levou joias e dinheiro avaliados em cerca de R$ 1,2 milhão. A ação, em plena madrugada, reforçou a percepção de que a segurança pública na capital deixou de ser previsível até para quem mora atrás de portões blindados.

Enquanto a letalidade policial se multiplicava, Derrite e o governador Tarcísio de Freitas exaltavam o aumento da chamada “produtividade policial”, medida pelo número de prisões — que passou de 146 mil em 2022 para 166 mil em 2024. Especialistas, porém, afirmam que esse tipo de indicador ignora a qualidade das investigações e o impacto das ações sobre a população civil.

O período também foi marcado por denúncias de corrupção na polícia. Um delator foi morto pelo PCC no aeroporto de Guarulhos. A operação Carbono Oculto, que revelou vínculos da facção com o setor financeiro, gerou incômodo no governo paulista.

A postura de Derrite manteve-se alinhada ao discurso de endurecimento. Em 2025, após a megaoperação no Rio de Janeiro que deixou 121 mortos, o secretário defendeu a ação e repetiu que “não há alternativa ao confronto”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou o episódio como uma “matança”.