Por que nós, mulheres, temos vergonha de postar fotos com namorados. Por Nathalí

Atualizado em 12 de novembro de 2025 às 9:59
Mulher com vergonha do marido. Foto: ilustração

As mulheres têm vergonha de postarem seus namorados: foi isso que concluiu uma matéria da Vogue que viralizou, com a ressalva de que há mulheres que não apenas não postam, mas nem sequer chegam a namorar, porque estão – que delícia escrever isso – focando em construir uma carreira.

O artigo, repleto de depoimentos de autores e intelectuais sobre o tema, dá conta – muito mais de questionar do que explicar – do fenômeno, radicalmente diferente do que temos visto sobre o comportamento feminino ao longo dos séculos.

Nos comentários, homens indignados dizem coisas como: “mulheres são boas em exigir, mas não entregam nada que valha a pena.”

Não entenderam ainda que não estão mais na posição de escolher. As mulheres de hoje dão um chute no rabo da síndrome da escolhida e mostram que agora quem escolhe somos nós, e sim, somos tão exigentes como deveríamos ter sido sempre.

A síndrome da escolhida nos diz que precisamos ser validadas por um homem – como sempre foi na história do capitalismo patriarcal -, mas agora somos escritoras, empreendedoras, professoras, intelectuais, engenheiras, médicas, donas de nós mesmas, não importa a profissão.

O tom dos comentários diz, em uníssono: temos vergonha de postar (e às vezes até de namorar) porque somos “mal amadas”.

Mulher subindo escadas. Foto: ilustração

E isso tem mesmo um fundo de verdade. Afinal, nunca sequer fomos amadas como merecíamos: sempre fomos apenas usadas – fosse para procriar, fosse para cuidar das cuecas deles, sermos amélias enquanto eles construíam suas vidas usando como escada nosso trabalho de cuidado não remunerado.

Então, sim, somos literalmente mal amadas – não porque nos tornamos feministas ou “mulheres masculinas” (e toda essa baboseira de que precisamos ser femininas com um laço na cabeça), mas porque, pela primeira vez, nós escolhemos a nós mesmas.

Eles parecem não compreender que energia feminina não é usar salto alto, maquiagem e fazer bolo às 3 da tarde: é saber dizer não em alto e bom som.

Nós não temos vergonha de assumir homens em nossas vidas porque somos “mal amadas” no sentido jocoso do termo. Apenas não aceitamos qualquer coisa para sermos validadas socialmente, porque entendemos que não precisamos dessa validação. Somos completas em nós mesmas.

E que tipo de homem temos vergonha de assumir? Homens que traem, que exploram, que abandonam, que nos apequenam – isto é, a esmagadora maioria dos homens hoje.

Em outras palavras, meus queridos, uma mulher que trabalha pra construir a própria vida, que faz baliza enquanto retoca o rímel, que cuida de si e sabe do próprio valor, não precisa MESMO aturar homens medíocres com egos imensos, e já entenderam que assumir o homem errado pode, inclusive, manchar sua imagem – parece que o jogo virou, não é mesmo?

E não é só vergonha: nós simplesmente não nos colocamos no lugar de sermos assumidas. Nós assumimos – ou não.

E, como disse Lady Gaga: “sua carreira não vai acordar e decidir que não te ama mais.”

Agora, somos mulheres imensas, e pra acompanhar isso exigimos um homem que minimamente nos respeite e não nos faça passar vergonha – e que, de preferência, cuide das próprias cuecas.

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.