
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completa 100 dias de prisão domiciliar nesta quarta-feira (12), isolado, politicamente enfraquecido e sob o temor de ser transferido para o presídio da Papuda, em Brasília.
Desde que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a medida por descumprimento de restrições judiciais, o ex-capitão viu a direita rachar com disputas internas, sua influência política diminuir e a tensão crescer até entre os vizinhos do condomínio onde cumpre pena.
O campo da direita enfrenta um período de crise e disputas que envolvem seus próprios filhos: Eduardo Bolsonaro (PL-SP), protagonista do racha do Centrão com a direita no episódio do tarifaço imposto por Donald Trump; e Carlos Bolsonaro (PL-RJ), cuja tentativa de concorrer ao Senado por Santa Catarina provocou uma guerra interna no PL catarinense.
Bolsonaro, impedido de usar as redes sociais, não consegue mais ditar a narrativa política da direita. Um aliado afirmou, sob reserva, que o ex-presidente “está mal assessorado e deveria se comunicar mais com o mundo externo, seja por bilhetes ou entrevistas controladas”.
O momento reflete o que aliados classificam como um “cenário anárquico”: sem liderança direta de Bolsonaro, governadores, deputados e pré-candidatos conservadores seguem agendas próprias, muitas vezes conflitantes.

A vida em prisão domiciliar e o mal-estar com os vizinhos
Desde 4 de agosto, quando foi preso, o Solar de Brasília virou o centro gravitacional do bolsonarismo. O condomínio abriga uma romaria de políticos e apoiadores em busca de bênçãos ou instruções. No entanto, a movimentação diminuiu: 57% das visitas ocorreram nos primeiros 50 dias, e hoje Bolsonaro convive quase exclusivamente com Michelle Bolsonaro e familiares próximos.
A presença do ex-presidente também provocou tensões entre moradores. “Tem muito morador brigando. Tem uns que apoiam [Bolsonaro] e outros não. Já fizeram até reunião para tentar expulsar o Bolsonaro. Mas o administrador disse que não ia entrar nessa briga”, disse ao Estadão o mecânico Vinícius Scucato, que enfrenta um processo de expulsão do condomínio.

A sombra da Papuda
Com o julgamento dos recursos prestes a terminar, cresce o temor de que Bolsonaro seja transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda entre o fim de novembro e o início de dezembro.
O plano mais provável, segundo fontes do STF, é enviá-lo ao batalhão da Polícia Militar dentro do presídio, conhecido como “Papudinha”, área reservada para agentes de segurança.
Nos bastidores, aliados esperam que a estadia dure uma ou duas semanas, mas Moraes pode estendê-la. O ex-presidente já chegou a dizer, em entrevista à Folha de S.Paulo em março, que teme o impacto físico e psicológico da prisão: “A prisão significaria o fim não apenas da minha carreira política, mas da minha vida”.