Por que a extrema direita tem pavor da Polícia Federal. Por Moisés Mendes

Atualizado em 12 de novembro de 2025 às 22:43
O governador Tarcísio de Freitas e o deputado Guilherme Derrite sérios, olhando para o lado
O governador Tarcísio de Freitas e o deputado Guilherme Derrite – Reprodução

Qualquer estagiário do PCC em qualquer fintech da Faria Lima sabe o que Guilherme Derrite foi fazer em Brasília, chamado às pressas por Hugo Motta, pelo centrão e pela extrema direita.

Mas os moradores de Lajeado, no Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, podem não saber direito, porque estão dedicados à reconstrução das suas vidas depois de uma tragédia. A maioria da população brasileira também não entende bem qual seria a missão de Derrite.

O estagiário trabalha em casa, no sistema remoto, e tem tempo para vasculhar o que se passa no Brasil. Ele está sabendo que Derrite foi chamado a Brasília para reassumir sua cadeia de deputado e dar sequência ao marketing da matança no Rio. A extrema direita é que entende de caçada a bandidos. E Derrite, como policial da PM de São Paulo, seria um grande caçador.

O estagiário sabe que direita e extrema direita chamaram Derrite porque: 1. Ele é o cara da porrada da Rota. 2. É homem de Tarcísio, que se acha ainda no jogo. 3. Ele é candidato ao Senado e pode ser o nome de Tarcísio ao governo de São Paulo, se o extremista moderado decidir enfrentar Lula.

Mas o que o estagiário mais sabe é que Derrite voltou ao Congresso para afastar a Polícia Federal, se possível, dos cenários de todos os crimes organizados, do tráfico e das milícias às gangues das emendas.

Derrite quer tirar a PF não só de perto dos homens do PCC, mas principalmente dos políticos do bolsonarismo, dos executivos da Faria Lima e dos acumpliciados de outras áreas com os chefões que ele diz combater.

Derrite tentou blindar, com suas versões do projeto antifacções, todos os que trabalham com e para o crime organizado dentro de estruturas de poder político e econômico, em governos estaduais, prefeituras, fintechs.

O estagiário sabe que ainda esse ano e principalmente em 2026 a PF vai fechar o cerco em torno da extrema direita associada ao crime organizado. Mas os moradores de Lajeado, no centro da região da tragédia da enchente do ano passado, talvez não saibam direito.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, falando, sério, sem olhar para a câmera
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta – Reprodução

A grande maioria da população brasileira também não sabe, porque é preciso tocar a vida. Não sabe que foi a Polícia Federal que puxou o fio capaz de levar à localização de R$ 120 milhões destinados pelo governo federal ao socorro dos desabrigados da região de Lajeado. A PF tem indícios de desvio do dinheiro.

A Polícia Federal, que Derrite pretendia afastar de investigações envolvendo crime organizado e os políticos, pegou o secretário de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano de Eduardo Leite, Marcelo Caumo.

Caumo era prefeito de Lajeado quando os R$ 120 milhões teriam sido desviados em manobras fraudulentas. A Operação Lamaçal investiga suspeitos de mais nove municípios. É um começo, porque a tragédia que matou 185 pessoas atingiu mais de um terço do Estado. A PF vai pegar mais gente.

Mas o brasileiro médio, essa figura que acorda às 5h, pega metrô e dois ônibus para chegar ao trabalho, que não tem tempo para saber o que Derrite anda fazendo, esse brasileiro não sabe que o secretário de Segurança de Tarcísio foi chamado para fazer o serviço sujo na Câmara.

E o serviço, como relator do PL antifacções, começava pelo amordaçamento da Polícia Federal, que investiga as relações da Polícia Civil de Tarcísio e Derrite com o crime organizado, a partir da morte do delator do PCC Vinicius Gritzbach, há um ano no aeroporto de Guarulhos.

Pelo parecer de Derrite, a PF não deveria se meter em investigações sobre crime organizado. O deputado queria só as policiais locais, sob o mando dos governadores, ‘caçando’ bandidos grandes. As mesmas polícias que também estão na mira da PF como corruptas.

O estagiário do PCC na fintech da Faria Lima sabe o que Derrite pretendia. E percebe agora que a extrema direita vai perder mais uma, como vem perdendo desde aquele dia em que o chefe de Derrite disse que bebe muita Coca-Cola.

O que se lamenta é que os moradores de Lajeado e o brasileiro médio talvez não saibam o que estagiário está sabendo. E esse é o problema do governo, das esquerdas, dos democratas e de todos os antifascistas.

O brasileiro talvez não tenha se dado conta de que o plano de Derrite era blindar os parceiros. Se não houvesse essa irmandade dos políticos com os PCCs, talvez a preocupação não fosse tão grande.

Derrite estava tentando blindar os que lavam dinheiro do crime organizado. É gente que ele, como policial e homem da segurança, conhece bem. Tarcísio conhece. O fascismo de São Paulo conhece há muito tempo.

A estratégia falhou, como vem falhando tudo que eles têm tentado esse ano, com exceção da matança no Rio, considerada um sucesso. Eles terão que preparar novas eurekas mais adiante. Mas, como são imprevisíveis, não há nem como se preparar.

Líderes e mandaletes da extrema direita desorganizada tentam se reacomodar no cenário nacional em cima dos cadáveres do Rio e protegendo os seus que ganham dinheiro em sociedade com as facções. Mas a Polícia Federal vai pegá-los.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/