A Polícia Federal cercou e está investigando um secretário de Eduardo Leite, o ex-tucano que ainda se esforça para passar a perna em Ratinho Júnior e ser o candidato do PSD à Presidência. O secretário é Marcelo Caumo, do Desenvolvimento Urbano e Metropolitano.
Caumo caiu na Operação Lamaçal, que investiga desvio de recursos federais do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), que socorreu o Rio Grande do Sul na enchente de 2024.
Na época, o secretário era prefeito de Lajeado, a maior cidade no centro da tragédia que matou 185 pessoas no Vale do Taquari. A PF chegou a indícios de desvios na contratação de serviços que movimentaram, em Lajeado, R$ 120 milhões de recursos públicos.
A pergunta, a partir da tentativa da extrema-direita de amordaçar a Polícia Federal, é esta: chegaremos ao dia em que a PF terá que avisar Eduardo Leite de que está investigando e fará busca e apreensão na casa de um secretário do seu governo? Hoje, parece que não, mas tudo passou a ser possível.
A PF terá um dia que avisar que, além do secretário, há muita gente da base política de Leite que também será investigada por desvios de dinheiro de desabrigados em pelo menos mais oito municípios — Muçum, Encantado, Garibaldi, Guaporé, Carlos Barbosa, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Porto Alegre?
A PF terá um dia que avisar o governador, que deu emprego ao ex-prefeito, de que o sujeito e aliados dele e do próprio governador serão investigados por corrupção? Um aviso da PF antes de iniciar as operações, que só funcionam se forem de surpresa?
É isso que a direita quer com a proposta de Guilherme Derrite, como relator do projeto Antifacções na Câmara? Que a PF peça licença para investigar gente da copa e da cozinha dos governadores de direita?
Sim, irão dizer que esse secretário de Leite não pertence a uma facção criminosa e que a PF tem prerrogativas para investigar tudo que envolva recursos, bens e serviços federais. Mas as facções que se organizam em torno de governos não são apenas as da bandidagem já conhecida.
São também as quadrilhas eventuais que se unem para saquear a ajuda destinada a pessoas que perderam casa e tudo o que tinham no maior desastre climático do Estado. São organizações criminosas.
São organizações de todo tipo que Derrite pretende blindar, blindando também os governadores e transformando a PF em linha auxiliar das polícias locais sob controle do fascismo.
O caso do secretário de Leite é apenas um exemplo de como gente sem escrúpulos passa a ser suspeita de se apropriar do dinheiro de pessoas que hoje não têm onde morar.
Derrite e seus parceiros vão dizer que, em casos como esse, as operações serão sempre a cargo da PF, porque o dinheiro desviado é federal. Será mesmo, sabendo-se que para a direita tudo é possível há muito tempo?
Estamos num ambiente em que o bolsonarismo aposta na sabotagem das investigações da PF para chegar às redes de corrupção montadas por políticos com e sem vínculos com o bolsonarismo.
A direita sabe que a PF apertará ainda mais o garrote em 2026 em torno das facções permanentes e temporárias que desviam emendas parlamentares. Podem cair deputados, prefeitos, governadores e quadros dos partidos.
No caso do Rio Grande do Sul, a Operação Lamaçal investiga desvio e lavagem de dinheiro de políticos e empresários que teriam ficado com recursos destinados às vítimas da tragédia que atingiu milhares de pessoas.
Todos políticos e agregados que buscaram a proteção do governo de um ex-tucano e ex-bolsonarista sempre dedicado a pregações moralistas.