E-mails de Jeffrey Epstein revelam relação direta com cientistas influentes

Atualizado em 14 de novembro de 2025 às 8:23
Jeffrey Epstein. . Foto: New York State Sex Offender Registry/Via AP

Uma comissão do Congresso divulgou nesta quarta-feira um conjunto extenso de mensagens eletrônicas e documentos ligados a Jeffrey Epstein, condenado por crimes sexuais. O material, que ultrapassa 20 mil páginas, amplia a compreensão sobre a atuação dele no meio acadêmico e sua aproximação com pesquisadores de grande projeção.

A divulgação reacendeu o interesse público em suas conexões com o presidente Donald Trump e ocorreu ao mesmo tempo em que avança no Legislativo uma iniciativa para obrigar o Departamento de Justiça a liberar arquivos sobre o financista. Mas o conteúdo revela algo mais amplo: por muitos anos, Epstein investiu energia e dinheiro em iniciativas científicas. Entre os episódios já conhecidos estavam os US$ 6,5 milhões destinados ao Programa de Dinâmica Evolutiva de Harvard e sua participação, em 2014, em reuniões editoriais da revista Scientific American.

As mensagens recém-liberadas mostram que ele mantinha contato frequente com nomes de alto peso acadêmico. Entre eles estão o físico Lawrence Krauss, o economista e ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers e o linguista Noam Chomsky, que continuou a trocar mensagens com Epstein mesmo após a condenação de 2008.

Krauss, que integrou o conselho consultivo da Scientific American até sua remoção em 2018, aparece em mais de cinco dezenas de e-mails com Epstein. Na época, Epstein financiava o Origins Project da Universidade Estadual do Arizona, então dirigido por Krauss. Segundo o jornalista Dan Garisto, um dos e-mails, de 2018, mostra Krauss pedindo sugestões sobre como responder às acusações de assédio sexual que enfrentava na universidade. Epstein teria sugerido dividir as acusações em itens considerados por ele “ridículos”, incluindo “olhares” e “piadas”.

Jeffrey Epstein e Donald Trump

Em outra troca, de 2015, Epstein disse a Chomsky: “Você pode usar o apartamento em Nova York quando quiser, ou voltar ao Novo México”. O Wall Street Journal posteriormente questionou vínculos financeiros entre ambos. Já Summers, ex-presidente de Harvard, mantinha contato frequente com Epstein, segundo informou o New York Times.

Em 2019, a revista Science estimou que as doações de Epstein para pesquisadores dificilmente ultrapassavam algumas dezenas de milhões de dólares. Em 2017, ele afirmou à publicação que preferia apoiar cientistas vistos por ele como “rebeldes” e criticou organizações como a Fundação MacArthur por serem “politicamente corretas”. Suas preferências se alinhavam a estudos sobre bases genéticas do comportamento humano, apontou a historiadora da ciência Naomi Oreskes em 2020, destacando que essas ideias carregam influências eugenistas e voltaram a circular em certos círculos do Vale do Silício.

Oreskes alertou na época que o caso expõe um problema mais amplo no meio acadêmico: quando financiadores privados direcionam pesquisas conforme seus interesses pessoais, isso fragiliza a credibilidade da produção científica.