América Latina já trata ação militar dos EUA como provável

Atualizado em 14 de novembro de 2025 às 20:09
USS Gerald R. Ford, o maior porta-aviões do mundo

Os recentes movimentos militares dos Estados Unidos no Caribe acenderam um alerta entre governos latino-americanos, que já tratam como provável uma ação militar contra a Venezuela. Diplomatas consultados pela coluna de Jamil Chade, no UOL, indicam que Washington avalia cenários de ataque aéreo, ainda que não aposte em invasão por terra. Em várias capitais, diplomatas se movimentam para coordenar respostas e avaliar os limites de uma eventual ofensiva.

A chegada do USS Gerald R. Ford, o maior porta-aviões do mundo, ao Caribe reforçou a percepção de que o governo de Donald Trump prepara uma operação concreta. A América Latina acompanha o tema em meio a instituições regionais fragilizadas e à falta de unidade política entre países do continente. Com Europa e Rússia concentradas na guerra da Ucrânia e a China reticente, o ambiente é visto como favorável para movimentos unilaterais dos EUA.

Um dos cenários considerados por governos como a Colômbia envolve ataques cirúrgicos semelhantes aos realizados pelo Pentágono contra alvos no Irã. A justificativa pública seria o combate ao narcotráfico e ao chamado narcoterrorismo no hemisfério, narrativa já repetida por integrantes da Casa Branca. Outras diplomacias da região compartilham avaliação semelhante.

A tensão aumentou após o anúncio da operação militar “Lança do Sul”, feito pelo secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth. Ele afirmou que a ação será conduzida com o Comando Militar Sul, sem detalhar local, duração ou objetivos específicos. A operação ocorre poucos dias depois de o porta-aviões americano ancorar no Caribe.

Presidente dos EUA, Donald Trump

Fontes ouvidas pelo UOL afirmam que propostas de ataques ao território venezuelano foram apresentadas a Trump. O presidente ainda não teria tomado uma decisão final. Mesmo assim, diplomatas de países da região vêm consultando integrantes do Conselho de Segurança da ONU sobre possíveis caminhos caso ocorra uma agressão. Há duas semanas, o órgão não conseguiu avançar após veto dos EUA.

Colômbia, México e Brasil avaliam que um ataque americano seria politicamente inaceitável e exigiria resposta imediata. O temor é que o silêncio legitime a retomada da lógica de “quintal” na política externa dos EUA. Lula tem adotado discursos firmes sobre autodeterminação e já sinalizou que não irá flexibilizar sua posição por interesses comerciais.

A Colômbia suspendeu o compartilhamento de informações de inteligência com os EUA. No México, Claudia Sheinbaum reforçou que seu governo rejeita interferência e invasões. A fragilidade dos projetos de integração regional, no entanto, dificulta uma reação coordenada. Celac, Mercosul e OEA enfrentam divisões internas e limitações políticas.

Diplomatas europeus demonstram receio de confrontar Trump enquanto a guerra da Ucrânia está em curso, o que amplia o isolamento da América Latina diante do risco de uma ofensiva. Para analistas, o principal dilema regional é como reagir sem instrumentos diplomáticos sólidos e com pouca coesão entre capitais latino-americanas.

Davi Nogueira
Davi tem 25 anos, é editor e repórter do DCM, pesquisador do Datafolha e bacharel em sociologia pela FESPSP, além de guitarrista nas horas vagas.