Sakamoto: Sonho presidencial de Flávio Bolsonaro já começa com uma rachadinha

Atualizado em 15 de novembro de 2025 às 12:48
Jair e Flávio Bolsonaro. Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tinha tudo para ser o herdeiro político do clã, mais racional e negociador que os seus irmãos, sendo candidato à Presidência da República quando Jair saísse de cena. Mas a realidade sofreu uma rachadinha e naufragou em calda de chocolate após as denúncias de desvios de dinheiro público em seu gabinete, quando deputado estadual, virem à tona.

Agora, ele se movimenta para tentar o Palácio do Planalto, como informou Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, mas há sempre uma assombração plantada no meio do caminho. Se Trump tem Epstein, Flávio tem Queiroz.

É provável que o senador esteja tentando apenas manter a força política da família em um contexto em que seu pai foi impedido de usar as redes sociais para evitar ataques ao STF. Eduardo, aliás, acaba de se tornar réu, por unanimidade, por coagir ministros no julgamento que sentenciou seu pai por tentativa de golpe. Deve ser condenado pela Suprema Corte, tornando-se inelegível e proibido de concorrer à Presidência.

E manter a hegemonia sobre a direita vem sendo uma tarefa difícil. O sonho do colega de Flávio, o senador Ciro Nogueira, por exemplo, é uma chapa abençoada por Jair Messias, mas sem a rejeição do nome Bolsonaro. Tipo Tarcísio e o próprio Ciro, que vai enfrentar dificuldades para se reeleger pelo Piauí.

A movimentação de Flávio, apontando que pode ser cabeça de chapa, também pode, ao final, garantir que ele seja o vice do governador paulista ou de outro candidato da direita. Ou que a indicação para o posto seja feita por sua família. É uma forma de evitar ser usado pelo Centrão e, depois, jogado fora como bagaço chupado de laranja. Afinal, uma coisa é um candidato prometer perdão presidencial ao pai dele, outra é esse aliado eleito aceitar o desgaste de lutar de fato por isso em um início de mandato quando o STF disser que a manobra é inconstitucional.

Mas, apesar de tudo isso, o voo presidencial do senador começa com uma rachadinha.

Flávio Bolsonaro posta foto ao lado de Tarcísio em meio a discussão sobre sucessão de Bolsonaro | Jovem Pan
Tarcísio e Flávio Bolsonaro. Foto: Reprodução

O senador chegou a ser denunciado, em novembro de 2020, por organização criminosa, lavagem de dinheiro, peculato e apropriação indébita, por envolvimento em um esquema de desvios de salários dos funcionários de seu gabinete para o seu bolso. Depois disso, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça acolheu o argumento de sua defesa, de que ele contava com foro privilegiado e não poderia ser processado na primeira instância. O TJ-RJ arquivou o processo.

O ministro Gilmar Mendes negou recursos apresentados pelo Ministério Público do Rio que tentavam reabri-lo. Não à toa, Jair disse a Eduardo Bolsonaro para não mexer com o ministro, naquelas mensagens que vieram a público, quando pai e filho estavam conspirando contra o STF e o Brasil.

O arquivamento das ações é criticado por juristas, mas o farto material investigado pelo Ministério Público e pela imprensa, além dos dados do Coaf, está lá. E ele passaria boa parte da campanha tendo que repetir “não fui condenado a nada”, o que não é uma boa plataforma eleitoral.

Esse escândalo abriu as portas de outros, mostrando que a prática estava presente nos mandatos de membros da família, inclusive no do então deputado federal Jair Messias. Investigações fizeram uma radiografia de como a família transfere a coisa pública para a privada, como a de Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, no UOL, que mostrou a compra pelo clã de 51 imóveis usando dinheiro vivo.

Tudo isso voltará à tona se Flávio quiser, de fato, disputar a Presidência. E ele sabe disso. Até porque as decisões judiciais não apagam o que ocorreu, como os bolsonaristas bem gostam de dizer sobre os escândalos envolvendo os petistas.