
O chanceler alemão Friedrich Merz atacou o Brasil no congresso da Federação Alemã de Varejo, em Berlim, na quinta-feira (13).
Ao falar diante de representantes do setor empresarial, Merz tentou destacar aspectos positivos da Alemanha como lugar para investir. Para isso, escolheu uma comparação grosseira com o Brasil.
“Minhas senhoras e meus senhores, vivemos em um dos países mais bonitos do mundo. Eu perguntei a alguns jornalistas que estiveram comigo no Brasil, na semana passada: quem de vocês gostaria de ficar por lá? Ninguém levantou a mão. Ficamos todos felizes por, especialmente daquele lugar onde estávamos, termos voltado para a Alemanha na noite de sexta para sábado”, disse Merz.
Segundo o chanceler, portanto, o Brasil não seria um lugar para se viver. Uma comparação desnecessária, que ninguém no auditório esperava, especialmente porque, pouco antes, Merz havia enumerado diversos problemas da própria Alemanha.
“Precisamos mostrar que nossa ordem de economia de mercado ainda funciona. Precisamos mostrar que nossa infraestrutura acompanha a demanda que vemos hoje e que vocês veem de perto, todos os dias, nas cidades onde vivem”, disse.
“Sim, este governo federal merece críticas, sem dúvida. E eu sou aquele que, a portas fechadas, as expressa da forma mais clara e contundente.”
Com uma passagem breve pela COP30, a conferência climática da ONU em Belém, Merz tentou sinalizar compromisso com a agenda ambiental. A estratégia, porém, contrasta com seu histórico na área.
Ein ungebetener Hinweis des Kanzlers: Brasilien sei aus seiner Sicht nicht lebenswert. Über seine Reise nach Belém sagte er:
„Wir waren alle froh, dass wir – vor allen Dingen aus diesem Ort, wo wir da waren – wieder nach Deutschland zurückgekehrt sind“https://t.co/CAYRyyRLid pic.twitter.com/fgH2ChAoLC
— NIUS (@niusde_) November 13, 2025
“Estamos em uma encruzilhada”, declarou aos chefes de Estado, defendendo que todos os países têm decisões difíceis pela frente. Ele disse que a Alemanha aposta em inovação e tecnologia para enfrentar a crise climática, mas ignorou que as soluções renováveis capazes de reduzir emissões já estão disponíveis há anos.
Embora repita publicamente que a Alemanha continuará perseguindo as metas climáticas nacionais e europeias, especialistas ressaltam que essas metas ainda não são suficientes para manter o aquecimento global dentro do limite de 1,5 ºC.
Ao minimizar a responsabilidade alemã na luta contra o aquecimento global, Merz alimenta dúvidas sobre a capacidade real do país de atingir suas próprias metas de redução de emissões. A crítica é reforçada por ambientalistas: “Friedrich Merz não conseguiu nos últimos meses delinear um rumo claro para a proteção climática. Em vez disso, contribuiu para aumentar a incerteza na sociedade”, afirmou Martin Kaiser, do Greenpeace Alemanha.
Enquanto isso, os impactos já são sentidos na vida cotidiana. A população enfrenta ondas de calor cada vez mais intensas, e a economia sofre com quebras de safra e falta de matérias-primas causadas pelo avanço da crise climática.
Um estudo do Ministério da Economia publicado em 2024 estimou que os prejuízos para a Alemanha, em um planeta mais quente, podem chegar a 900 bilhões de euros até 2050.
Treze organizações ambientais e humanitárias enviaram uma carta a Merz pedindo que o país anunciasse, ainda durante a conferência, ao menos US$ 2,5 bilhões para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).
O Brasil espera que a Alemanha siga o exemplo da Noruega, hoje a maior financiadora do programa. Até o momento, porém, Berlim ofereceu apenas apoio político e a promessa vaga de uma contribuição “significativa”.