Como o governo Lula afina a comunicação para evitar ruídos em temas sensíveis

Atualizado em 16 de novembro de 2025 às 13:42
Sidônio Palmeira, publicitário baiano, é o ministro da Secretaria de Comunicação no governo Lula. Foto: Divulgação/Arquivo

Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificaram o uso de pesquisas internas para orientar intervenções públicas e alinhar mensagens estratégicas. A medida ganhou força após a repercussão da operação policial nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, e busca reduzir ruídos num período próximo ao calendário eleitoral.

No Planalto, a avaliação é que Lula mantém seu estilo espontâneo e direto, traço que sempre marcou sua comunicação com a população. A ideia não é mudar esse perfil, mas garantir que temas sensíveis cheguem ao público com mais clareza e contexto. Para isso, a equipe passou a reforçar briefings baseados em dados de opinião e cenários atualizados.

Com esse trabalho prévio, auxiliares procuram organizar o ambiente antes de entrevistas, destacando informações essenciais e pontos que podem ser mal interpretados. A orientação é oferecer ao presidente insumos que ajudem a situar cada tema no panorama mais amplo das ações federais.

No caso da operação no Alemão, a comunicação preparava uma fala centrada na falta de resultados estruturais, já que lideranças do Comando Vermelho não foram capturadas. A proposta era mostrar a necessidade de ações integradas, alinhadas à diretriz do governo de combater o crime sem colocar moradores e agentes em risco.

Após a entrevista que se tornou foco de debate, a equipe reforçou nas plataformas oficiais programas e investimentos federais na área de segurança. A intenção foi reafirmar a posição do governo e mostrar que, mesmo em temas delicados, há esforço constante para calibrar a comunicação com responsabilidade e base em dados.

Pesquisa Genial/Quaest, feita de 6 a 9 de novembro, mediu a opinião da população sobre a operação no RJ

O levantamento da Genial/Quaest divulgado nesta semana mostrou divergências entre parte dos entrevistados sobre a avaliação da operação no Rio. Para assessores, o dado reforça a necessidade de continuar calibrando a comunicação, sobretudo entre eleitores que não se identificam nem com o campo petista nem com o bolsonarista.

Esse grupo, estimado em cerca de 10% do eleitorado, costuma reagir com maior sensibilidade a temas ligados à segurança pública. No Planalto, a leitura é que ajustes de linguagem e destaque das ações federais ajudam a manter o debate em bases concretas, evitando interpretações distorcidas.

A avaliação interna é de que, com esse cuidado, é possível preservar os índices de aprovação mantidos desde julho. O governo entende que transparência e contextualização são decisivas para dialogar com segmentos mais moderados do eleitorado.

O episódio também reforçou um aprendizado recente: declarações sobre temas complexos, como segurança e tráfico de drogas, exigem preparo prévio e informações precisas para não gerar ruído. Por isso, a equipe intensificou a coleta de dados e o planejamento de mensagens.

A prioridade segue sendo comunicar de forma clara, responsável e alinhada às políticas já em curso, fortalecendo a relação direta de Lula com a população.

Lindiane Seno
Lindiane é advogada, redatora e produtora de lives no DCM TV.