Globo cria programa para Ricardo Nunes com dinheiro público e oculta propaganda da audiência

Atualizado em 16 de novembro de 2025 às 19:10
Programa Paulistar, da Globo: jabá de Ricardo Nunes

A Globo está vendendo a seu público um programa chamado Paulistar como uma celebração do orgulho paulistano, ou algo que o valha.

Na verdade, trata-se de um produto feito sob encomenda para a prefeitura de São Paulo, pago com dinheiro do contribuinte.

Apresentado por Valéria Almeida e exibido nas tardes de sábado, é uma peça publicitária da gestão Ricardo Nunes, mas sem ser apresentado como tal.

É uma forma de merchandising político travestido de entretenimento, eticamente indefensável. Pilantragem completa.

O estratagema ajuda a explicar por que Nunes se tornou o prefeito mais clandestino do país. Apesar de um governo medíocre, na melhor das hipóteses, ou criminoso, na pior, ele quase não aparece no noticiário da emissora.

Em vez de jornalismo, o público recebe um programa que promove realizações sem qualquer aviso de que se trata de conteúdo pago.

Ele faz algo parecido com a Folha de S.Paulo, na forma de “reportagens” customizadas.

A estreia do Paulistar aconteceu no Capão Redondo, na periferia de São Paulo, onde Valéria tomou café em padaria, conversou com moradores e transformou pessoas comuns em cenário para enaltecer políticas públicas.

Nenhum deles é informado de que está participando de publicidade governamental. Todos estão trabalhando de graça para Nunes e os Marinhos.

A apresentadora contou ao F5, da Folha, que o Paulistar tem “abordagem humanizada” e que o público envia sugestões por QR Code. O formato se apoia justamente nessa aparência espontânea para mascarar seu propósito real. É diabólico, como só a Globo sabe fazer.

Esse tipo de dissimulação não é novo na casa. Das bets à Fórmula 1, passando por merchandising picareta em telenovela, a Globo sempre achou uma brecha para o jabá. É uma usina de picaretagem.

O Paulistar provavelmente se tornará modelo para ser replicado em outras capitais. Sem transparência e sem aviso à audiência, esse tipo de jabá deve garantir à emissora mais alguns anos de vida às custas da inocência alheia.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.