
A eleição chilena ganhou um elemento curioso no domingo com o resultado entre eleitores residentes em Israel. O líder de extrema direita José Antonio Kast venceu com folga no voto em primeiro turno. Kast alcançou 52,27% dos votos, seguido pelos também candidatos de direita Johannes Kaiser (29,55%) e Evelyn Matthei (12,88%). A candidata da esquerda, Jeannette Jara, obteve apenas 3,79%.
Um documento revelado em 2021 no Arquivo Federal da Alemanha confirma que Michael Kast, pai do candidato, ingressou voluntariamente no Partido Nazista meses antes de completar 18 anos, tornando-se depois oficial do exército de Hitler. A informação da agência Associated Press (AP).
O registro, datado de 1º de setembro de 1942, desmonta a versão repetida por José Antonio Kast ao longo dos anos: a de que seu pai teria servido apenas como recruta obrigatório, sem vínculo político com o nazismo. A filiação ao partido — como explicam historiadores — era voluntária, ao contrário do serviço militar.
Para ter uma ideia de como anda Israel, Kast perdeu na Alemanha, ficando atrás de Jara.
O jornalista chileno Mauricio Weibel foi o primeiro a localizar o documento na Alemanha. A AP confirmou a autenticidade da carteira de identidade nazista, que traz o nome, data de nascimento e número de filiação compatíveis com o pai de Kast — 9271831.
A relação entre a família Kast e o pinochetismo também é extensa. O irmão de José Antonio, Miguel Kast, presidiu o Banco Central durante o regime militar. O próprio candidato afirma que votou pelo “Sim” no plebiscito de 1988 que buscava manter Pinochet no poder. Em eleição anterior, Kast declarou que, se o ditador estivesse vivo, “votaria nele” — e que ambos tomariam “uma xícara de chá em La Moneda”.
José Antonio é defensor do regime e chegou a visitar na prisão o brigadeiro Miguel Krassnoff, condenado a mais de 800 anos por sequestros, torturas e assassinatos. Em 2018, ao ser confrontado com esses fatos, Kast classificou as acusações contra Krassnoff como “coisas que dizem dele”.

Livros e investigações reforçam esse histórico. Em 2015, o jornalista Javier Rebolledo dedicou metade de sua obra “A la sombra de los cuervos” (“À Sombra dos Corvos˜) à família Kast, com base no testemunho de Olga Rist, viúva de Michael Kast. Segundo o livro, Christian Kast, outro irmão, colaborou com a Dina, a polícia política da ditadura. Também há relatos de que Michael Kast teria participado de detenções de opositores.
Michael Kast chegou ao Chile em 1950, após destruir documentos que o identificavam como oficial alemão e substituí-los por papéis da Cruz Vermelha. Com apoio de Erik Wünsch, ex-oficial nazista radicado no Chile, conseguiu visto e se instalou em El Paine, onde construiu negócios na alimentação. Após o golpe de 1973, a família se integrou tanto ao planejamento econômico quanto à infraestrutura repressiva da ditadura.