
O bolsonarismo vive sua segunda tentativa de debandada, marcada por movimentos silenciosos de sucessão e pela busca de novos protagonistas na direita em meio ao enfraquecimento político de Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe de Estado. Com informações da Folha de S.Paulo.
Diferentemente da primeira onda de dissidentes — que enfrentou o ex-presidente e acabou com insignificância eleitoral, como Joice Hasselmann e Janaina Paschoal —, a nova leva tenta se afastar mantendo reverência pública a Bolsonaro, ao mesmo tempo em que adota discurso mais ao centro.
A articulação do Centrão, de parte do empresariado e do mercado financeiro em torno de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), é o elemento mais visível dessa reconfiguração.
A eleição municipal de São Paulo em 2024, quando Pablo Marçal quase superou o candidato apoiado pelo bolsonarismo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), serviu como alerta: nem toda dissidência significa morte política.
Essa movimentação ocorre agora com Bolsonaro fora do jogo, o que dá vantagem aos aspirantes a herdeiros da direita.
Filhos tentam manter o comando e atacam dissidentes
Com o ex-presidente fora do jogo, Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro se esforçam para manter o controle do movimento e impedir que novas lideranças avancem. Flávio intensifica sinais de que pode disputar a Presidência, cenário visto como um pesadelo pelo Centrão, que tenta unificar a direita em torno de Tarcísio.

Eduardo, em entrevista recente, criticou atores que tentam se vender como líderes da direita. “Ao se retirar o Jair Bolsonaro da equação, não se encontra um outro líder que aglutine todo mundo”, disse, afirmando que não quer que a direita “leve gato por lebre”.
As críticas miram governadores de direita — chamados pelos filhos do ex-presidente de “ratos” —, além de figuras como Ricardo Salles e Nikolas Ferreira, acusados pelo entorno da família de não usar seu alcance digital para pressionar pela situação de Bolsonaro.
Há também desgaste interno provocado pela decisão de lançar Carlos Bolsonaro ao Senado por Santa Catarina, o que rachou a base no estado, com a deputada estadual Ana Campagnolo liderando a oposição.
Temor de perder espaço para o Centrão
Segundo o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, o clã teme perder protagonismo. Para ele, os filhos de Bolsonaro resistirão a “passar o bastão” antes de 2026 para não condenar o pai ao ostracismo e não enfraquecer a bancada de extrema-direita.
“Creio que eles vão ter um dilema, que vai persistir até o final. Se eles passam o bastão para alguém antes, para o Tarcísio, colocam o Bolsonaro no ostracismo total, e isso dificulta a eleição de uma bancada de deputados de extrema-direita. Então, acho que eles vão ficar com esses fantasmas”, diz o líder da bancada do PT na Câmara.
“Eu conversei com alguns deles, que dizem: ‘O nosso medo é a gente ser engolido pelo Centrão’. Você está vendo uma tentativa de desgarramento de parte desse grupo do Bolsonaro. E acho que a turma do Bolsonaro vai dizer não.”