
A ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, foi condenada à morte por crimes contra a humanidade por um tribunal especial em Daca. O veredito, anunciado nesta segunda (17), atribui a ela a responsabilidade por ordenar a violenta repressão aos protestos estudantis de 2024, ligados ao sistema de cotas em empregos públicos.
Segundo o juiz Golam Mortuza Mozumder, todos os elementos para caracterizar o crime contra a humanidade foram preenchidos. O julgamento se estendeu por meses e tratou da resposta do governo às manifestações lideradas pela chamada Geração Z, entre julho e agosto de 2024.
Os protestos começaram contra um modelo de cotas que reservava um terço das vagas no serviço público a parentes de veteranos da guerra de independência de 1971. De acordo com a ONU, até 1.400 pessoas podem ter sido mortas e milhares ficaram feridas, em sua maioria por disparos das forças de segurança.
Hasina foi julgada à revelia, já que fugiu para a Índia em agosto de 2024, após a queda de seu governo. Mesmo fora do país, ela ainda pode recorrer da sentença à Suprema Corte de Bangladesh. Paralelamente ao anúncio do veredito, o governo pediu oficialmente à Índia a extradição da ex-premiê para que a pena possa ser executada.

Em nota, Hasina afirmou que a decisão é enviesada e politicamente motivada. Ela argumenta que seu governo perdeu o controle da situação durante o levante estudantil, mas nega que tenha havido um ataque premeditado contra cidadãos. A ex-premiê também diz que não teve acesso pleno ao direito de defesa e declara que pretende enfrentar os acusadores em um tribunal que considere imparcial.
No processo, Hasina foi representada por um defensor público indicado pelo Estado, que pediu sua absolvição e classificou as acusações como infundadas. A sentença ocorre poucos meses antes das eleições parlamentares previstas para fevereiro, em um cenário em que a Liga Awami, partido de Hasina, foi impedida de concorrer. Há temor de que o veredito provoque novas ondas de protestos e instabilidade política.
Hasina governou o país como primeira-ministra a partir de 2009 e era vista como uma das mulheres mais influentes da Ásia. Filha do líder fundador de Bangladesh, Sheikh Mujibur Rahman, ela foi creditada por impulsionar a indústria têxtil e o crescimento econômico. Ao longo dos anos, porém, seu governo passou a ser associado a prisões de opositores, restrições à liberdade de expressão e denúncias de execuções extrajudiciais.
Desde a fuga de Hasina, Bangladesh é administrado por um governo interino chefiado pelo ganhador do Nobel da Paz Muhammad Yunus, que havia sido perseguido e condenado por corrupção durante a gestão da ex-premiê.